Criador da “Bibliotecária Mal Humorada” com quase 12 mil fãs, Lucas Rodrigues dá o seu recado a todos o bibliotecários do Brasil de forma direta e clara, passando uma mensagem positiva e de esperança a quem está desanimado com a profissão.
Por que Biblioteconomia?
Estudei Publicidade e Propaganda antes de cursar Biblioteconomia. Iniciei sendo estagiário em biblioteca e me apaixonei pela profissão. Inicialmente me atraía: a perspectiva de um bom salário; o fato de ser uma profissão regulamentada (com entidades representativas), a estabilidade e responsabilidade com que as coisas eram vistas e executadas na biblioteca; algo diferente do que via no cenário profissional quando trabalhava na área da comunicação.
Qual é a sua opinião sobre o futuro da nossa profissão?
Algumas pessoas são muito pessimistas sobre o futuro da nossa profissão, eu discordo disso. Aliás, acredito que a gama de assuntos, áreas e aplicações da informação aumentaram, e por consequência disso o trabalho do bibliotecário se tornou mais diverso e plural. Estamos caminhando rumo a era da “informação na nuvem”, gerenciamento de bases de dados (cada vez mais completas e complexas), tags e indexadores nos motores de busca e etc… Contudo, mesmo com esses avanços, grande parte de nós estará nas bibliotecas convencionais agindo como promotores de leitura e mediadores de informação; e isso não é ruim! São as novas práticas, somadas as práticas tradicionais que nós tornam um diferencial e um misto do clássico e o moderno.
Onde você fez sua graduação? O que achou do curso?
Eu estudei Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mais especificamente na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (FABICO) no período de 2008 a 2012. Sempre achei o curso interessante e aproveitei ao máximo tudo o que a faculdade poderia me proporcionar de experiências e conhecimento. Tive a oportunidade de ter aula com grandes figuras da Biblioteconomia do meu estado, pessoas essas que me inspiram muito e até hoje tento aplicar com afinco aquilo que aprendi em sala de aula.
Qual foi o seu maior desafio no trabalho?
Acho que em todos locais que trabalhei, o maior desafio sempre foi trazer a biblioteca para o protagonismo da instituição. Em outras palavras, fazer com a que a biblioteca apareça e exerça seu papel dentro da organização, e isso não é tão simples. Muitas vezes se tem a imagem arreigada de um setor onde muita coisa é proibida, que é estagnado, monótono e a equipe é apática. Francamente, nunca me vi com esse perfil (aliás, conheço poucos bibliotecários assim), mas as pessoas tem essa imagem nossa. Cabe a nós mudarmos esse estigma e tornarmos a biblioteca divertida, atrativa e funcional.
Você é o criador da página “Bibliotecária Mal Humorada”, quem foi sua inspiração?
A Bibliotecária Mal Humorada vem justamente para brincar (debochar) desse esteriótipo que é o bibliotecário velho e rabugento. A criação da Doroteia Roz é justamente inspirada nessa imagem do profissional irritado e cansado, que convenhamos, vez ou outra encontramos algum assim. Alguns podem dizer que isso reforça o estigma do bibliotecário mal humorado, eu discordo, pois a ideia da página é justamente o contrário: rir de nós mesmos, rir dos aspectos práticos da nossa rotina em bibliotecas; duvido que qualquer profissional já não tenha passado/pensado algo das situações cotidianas que a Roz passa. Evidentemente, a Bibliotecária Mal Humorada é uma brincadeira e deve ser encarada como tal.
Você sempre trabalhou dentro da biblioteca? Se não, onde mais? Como foi a experiência?
Somados o tempo de formado e o período de estagiário, tenho mais de dez anos de experiência em bibliotecas de diferentes tipos. Contudo, minha maior experiência foi em bibliotecas universitárias e especializadas. Trabalhei em biblioteca histórica, escolar e atualmente sou bibliotecário-chefe de uma biblioteca privada de um clube em Porto Alegre. A experiência em trabalhar em diferentes espaços é sempre interessante. Claro que nem tudo é sempre fantástico, muitas vezes nós aprendemos o “como não fazer”, mas isso é conhecimento também. Minha única experiência fora do ramo da informação foi como representante comercial de moda, onde eu ajudava na organização de desfiles, venda e estoque de roupas.
Qual foi o último livro técnico que você leu? Sugira uma leitura técnica.
Normalmente quando faço leituras técnicas, leio sobre o tema que mais me chama a atenção que é: Liderança. Esse foi o tema do meu trabalho de conclusão, explorando a Biblioteconomia com esse viés da formação de líderes. Minha leitura sugerida é: o Livro de Ouro da Liderança do John C. Maxwell, pequeno, simples e bastante elucidador para quem tem interesse em iniciar no assunto.
Qual livro você está lendo agora? Sugira uma leitura para lazer.
Eu normalmente gosto de literatura fantástica, juvenil. Sempre me atraiu esse tema, pois é sobre ele que eu costumo escrever. O que atualmente estou lendo (e é também minha sugestão) é Battle Royale, do autor japonês Koushun Katami. Esse título foge um pouco do meu estilo, uma vez que ele é extremamente realista e violento, mas o que atraí é a trama viciante e envolvente num mundo distópico e autoritário.
Quem é seu mentor na Biblioteconomia, por quê?
Minha grande mentora foi a professora Jussara Pereira Santos. Acredito que ela seja um dos (se não for o maior) nome da Biblioteconomia do Rio Grande do Sul. Uma professora excelente, prática, fundamentada, exigente, critica e que foi protagonista no curso de Biblioteconomia da UFRGS. Se puder realizar um terço do que ela realizou, já me consideraria feliz.
Mande um recado para todos os bibliotecários do Brasil.
Não se fechem em suas bibliotecas! Não fiquem na zona de conforto, pois ser bibliotecário é mais que simplesmente fazer as atividades técnicas (que são vitais); isso é o mínimo se espera de nós: técnica. Vão além disso. Mostrem que podem ser gestores competentes, que podem ser comunicadores e facilitadores de informação, que podem sim ser líderes e que podem exercer um trabalho com competência, qualidade e simpatia.
Fonte: Portal do Bibliotecário