Dois dos maiores especialistas em leitura do mundo – Alberto Manguel e Robert Darnton – fizeram um encontro memorável na noite de terça-feira, 30, em São Paulo. No Brasil para celebrar os 30 anos da Companhia das Letras, editora que publica a obra de ambos por aqui, eles conversaram com desenvoltura sobre censura, bibliotecas, Borges e livro digital. O encontro no Sesc Vila Mariana foi mediado por Sérgio Rodrigues.
Darnton – americano, diretor emérito da maior biblioteca universitária do mundo, Harvard, e autor do recente Censores em Ação – começou o encontro analisando a censura a partir do século 18 (“período em que passei a maior parte da minha vida”). “A censura faz leitores lerem entrelinhas. Isso significa que devemos ter? Claro que não!” No seu estudo dos 1700, ele observou que a censura tinha um significado diferente. “Não era apenas uma supressão do pensamento, mas também um selo de aprovação.”
Diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, Manguel comentou que a história da literatura corre em paralelo com a história da censura. “É inesperado, porque os censores agiam como críticos”, compara.
O encontro foi realmente uma conversa entre os dois intelectuais: um dos vários momentos de interação ocorreu quando eles discutiram a catalogação de bibliotecas, tomando por base o pesadelo que é a Biblioteca de Babel de Borges, infinita. “É um trato humano fundamental: distinguir coisas em categorias. Mas isso significa restringir? Eu acredito que não”, disse Darnton. Manguel discordou sutilmente. “Não há jeito de inventar um sumário honesto que encamparia todos os significados. Eco diz que os limites da interpretação coincidem com o senso comum, que varia com cada leitor e com cada leitura”, comparou. E Darnton rebateu: “Você poderia dizer que cada palavra que dizemos é filtrada pela consciência, bem como os gestos, então tudo é censura. Mas se tudo é censura, nada é. Não devemos ‘trivializar’ o conceito de censura, em respeito aos escritores que sofreram”.
O americano demonstrou seu conhecido otimismo em relação ao livro digital, salientando seu projeto de digitalizar a biblioteca de Harvard. “Acho que estamos nos movendo para um estado da cultura em que todo o conhecimento vai estar disponível para todos os seres humanos.”
O próximo evento de comemoração da editora ocorre no dia 26 de setembro, no Rio, com Mia Couto e Maria Bethânia. No dia 28, o moçambicano também vem a São Paulo conversar com Julián Fuks. No dia 25 de outubro, Ian McEwan e David Grossman debatem literatura e ética no Sesc Pinheiros.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: IstoÉ | Estadão Conteúdo