Escrever o próprio nome. E ler e entender o que está escrito na embalagem do arroz, do feijão, na conta de luz, de água… Situações que fazem parte do cotidiano de mais de 86% da população brasileira, conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E a agricultora familiar Maria Aparecida da Conceição Silva, 56 anos, conta, entusiasmada, que agora também está nesse grupo.
Foi em meados de 2009 que o Programa Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), chegou ao Assentamento São Joaquim, no município de Angical (PI). A biblioteca, que continha 200 livros de diversos assuntos, ficou instalada na casa de Maria Aparecida. No início, ela se sentia confusa ao ver tantas letras e não conseguir transformá-las em palavras. Uma de suas três filhas, Francisca Edivania da Silva, era uma das agentes de leitura responsáveis pela arca e, com o passar do tempo, incentivou sua mãe a tentar ler. “Eu só sabia ler e escrever meu nome”, lembra a agricultora.
Da mesma maneira que ela, mais 45 famílias do assentamento podem contar, hoje, com cerca de 400 livros disponíveis na biblioteca Arca das Letras da comunidade. Atualmente, a biblioteca está localizada na casa do agente de leitura Neil Armstrong de Freitas, 41. Ele conta que muitas pessoas evoluíram na leitura após a chegada do programa. “Foi uma novidade para todos. As crianças e os jovens pegam muitos livros, mas, também, vejo os mais velhos, como a dona Maria Aparecida, procurarem a gente com entusiasmo”, afirma.
Ele conta que trabalhar com a comunidade é sempre viver um dia diferente do outro e não se vê fazendo outra coisa. Para ele, a história de Maria Aparecida é uma das mais bonitas que já viu. “Vi o empenho, a vontade dela em aprender a ler e escrever”, relata.
Aprendizagem
De acordo com Maria Aparecida, a ajuda dos livros da biblioteca Arca das Letras foi fundamental em seu processo de aprendizagem. “Antes eu quase não conseguia ler. Agora, aprendi, peguei o costume e gosto bastante. Meus livros favoritos são os de história do Brasil”, destaca.
Para Neil, após a implantação da biblioteca, a comunidade obteve inúmeros benefícios. Mas o mais notável é ter fácil acesso à informação. “Nós tínhamos que andar 13 quilômetros daqui até o centro da cidade para poder conseguir um livro. Com a biblioteca aqui não precisamos mais fazer essa viagem, gastar com transporte”, comemora.
O agente afirma que, assim como Maria Aparecida, existem muitos outros leitores assíduos na comunidade. Por isso, faz questão de abrir a biblioteca todos os dias. “Quero que a comunidade possa vir e pegar os livros. A gente também faz brincadeiras para incentivar a leitura. Tem contação de histórias, literatura de cordel. Eu vejo que isso ajuda de verdade a comunidade. O livro e a leitura são muito importantes, eles abrem portas para um futuro melhor, dão novas oportunidades”, argumenta.
O Programa
O Programa Arca das Letras foi criado em 2003 como uma estratégia para ampliar o acesso da população do meio rural aos livros e incentivar a leitura. Ao todo, o programa atende cerca de 1,5 milhão de famílias de aproximadamente 1,6 mil municípios por meio das mais de nove mil bibliotecas entregues até dezembro de 2012. São 1,9 milhão de livros organizados em acervos distribuídos às bibliotecas rurais, 16 mil agentes de leitura formados para incentivar a leitura e emprestar os livros voluntariamente em suas comunidades.
Fonte: Jornal Dia Dia