Incentivadas pelo crescimento expressivo das vendas de livros juvenis no Brasil, editoras fazem novas apostas para conquistar leitores – e principalmente leitoras. Lançadas recentemente, Carina Rissi, Bruna Vieira e Patricia Barboza, três autoras dessa nova seara, já acumulam juntas vendas de mais de 100 000 exemplares
As veteranas e best-sellers juvenis Thalita Rebouças e Paula Pimenta, que tem um blog no site de VEJA, ainda arrastam multidões a feiras e sessões de autógrafos, mas já enfrentam concorrência no nicho brasileiro do chick lit – termo que surgiu em na década de 1980 como apelido para uma disciplina sobre literatura feminina da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. As editoras, de olho no bom desempenho do mercado juvenil, que cresceu 19,5% em volume de vendas em 2013 segundo a empresa de pesquisa de mercado GfK, vêm reforçando suas apostas naquele que talvez seja o nicho com maior número de representantes nacionais, dentro do segmento jovem. E, dessa nova investida, já desponta uma nova onda de autoras, com nomes que prometem marcar o ano de 2014: Carina Rissi, Bruna Vieira e Patricia Barboza.
Em inglês, “chick” é uma gíria amena para designar mulheres, as jovens em especial. O termo chick lit se aplica a livros que abordam o universo “menininha”. Geralmente com mulheres como protagonistas, eles tratam de amor, família e relacionamentos. Para João Luís Ceccantini, professor especializado em literatura infantil e juvenil da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), a investida das editoras no gênero se deve ao sucesso de autoras como a própria Thalita. “Esse mercado é muito ágil. Quando um livro dá certo, outras editoras lançam obras parecidas”, diz.
Uma das precursoras do chick lit juvenil no Brasil, Thalita estreou concorrendo com autoras como a americana Meg Cabot (da série O Diário da Princesa) e a irlandesa Marian Keyes (de Melancia e Sushi), feras do gênero, em 2001. Agora, mais de uma década depois, ela embarca em um novo desafio: escrever para crianças (box). Enquanto Thalita avança para outros filões, Carina, Bruna e Patricia dão os primeiros passos na conquista do público juvenil.
Carina Rissi, da cidade de Ariranha, interior de São Paulo, deixou a vida de funcionária pública para se dedicar à criação de sua primeira filha. Ela só não esperava que logo fosse unir a vida de mãe à de escritora. Carina lançou seu primeiro livro, Perdida: Um Amor que Ultrapassa as Barreiras do Tempo, em 2011, pela editora Baraúna, mas foi com o segundo romance que ganhou mais visibilidade. Procura-se um Marido saiu no ano seguinte pelo selo Verus, que pertence ao Grupo Editorial Record, um dos maiores do país, por onde Perdida foi reeditado em 2013. Juntos, os dois livros já venderam mais de 26 000 exemplares, número farto para os padrões do mercado editorial brasileiro.
Bruna Vieira, jovem de Leopoldina, interior de Minas Gerais, também teve um começo inesperado no mundo das letras. Após passar por uma desilusão amorosa aos 15 anos, a garota decidiu criar um blog apenas para desabafar, como tantas adolescentes, mas viu sua audiência na rede e o interesse por suas crônicas e contos crescerem. Ela se mudou para São Paulo no final de 2011 para cursar o ensino superior, mas os planos foram atropelados pelo sucesso na internet. O blog se tornou parceiro da revista CAPRICHO (assim como VEJA, da editora Abril) e logo despertou o interesse da editora Gutenberg, que lançou um apanhado dos textos publicados no site no livro Depois dos Quinze, em 2012. Pela mesma editora, chegou às livrarias o primeiro romance de Bruna, De Volta aos Quinze, em 2013. Juntos, os livros venderam quase 60 000 exemplares.

Tudo começou quando Bruna Vieira, natural de Leopoldina, interior de Minas Gerais, sofreu uma desilusão amorosa, aos 15 anos. Para desabafar, a menina criou um blog, o Depois dos Quinze, que logo se tornou o cantinho em que Bruna escrevia sobre tudo de que gostava: maquiagem, moda, livros. Em apenas dois anos, uma reunião dos contos e crônicas que publicava no blog foi lançada pela editora Gutenberg, do Grupo Autêntica.
O segundo livro de Bruna, De Volta aos Quinze, chegou às livrarias também pela Gutenberg, em 2013. No romance, Anita, uma mulher de 30 anos infeliz com sua vida volta no tempo ao reler posts de um blog que criou aos 15 anos. Ela se vê de novo com metade da idade, no auge da adolescência, e revive os dramas típicos da idade.
Bruna enxerga a literatura juvenil como um refúgio para meninas que, como ela, sofreram algum baque durante a adolescência. “Acho que a literatura se transforma em ajuda, as meninas se identificam. Na adolescência, tudo é muito intenso e nem sempre as garotas têm com quem conversar. Com os livros, sinto que me torno amiga delas, me aproximo”, disse. (Foto: Reprodução)
Ao contrário de Bruna e de Carina, a carioca Patricia Barboza, embora seja uma aposta nova da Verus, já tem experiência nas letras e nas publicações. Seu primeiro livro, Os Quinze Anos de Carol (RGB), foi lançado em 2002. Mas é só hoje, depois de deixar de lado a vida de analista de sistemas e integrar um selo maior, que a escritora desfruta de um grande público e contabiliza vendas na casa dos 30 000 exemplares, desempenho conjunto dos três primeiros volumes da série As MAIS, sobre o cotidiano de quatro amigas adolescentes no Rio de Janeiro.
Nem Carina nem Bruna nem Patricia admitem escrever só para meninas, público a que se destina o chamado chick lit. Mas é inevitável associá-las ao nicho. Para Vera Teixeira de Aguiar, professora de literatura infantil e juvenil da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), os jovens buscam livros que tenham personagens com as quais possam se identificar. “Nesses livros para moças, elas encontram modelos de comportamento para situações amorosas, familiares, de amizade etc.”
Fonte: Veja | Meire Kusumoto