No último dia 28 de junho, Álamo Chaves (CRB-6/2790), presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região (CRB-6), utilizou o espaço do jornal O Tempo para denunciar as alarmantes condições das bibliotecas públicas em Minas Gerais. Intitulado “Bibliotecas públicas euro-americanas e as de Minas”, o artigo destaca um contraste gritante entre o investimento e o cuidado dedicados às bibliotecas em países desenvolvidos e a realidade enfrentada por esses espaços no estado brasileiro.
O presidente começou seu texto destacando o papel essencial que as bibliotecas públicas desempenham em comunidades de países como os Estados Unidos e Noruega, onde essas instituições não se limitam apenas a emprestar livros. Ele mencionou exemplos de bibliotecas que oferecem desde estúdios de gravação e impressoras 3D até programas de suporte social para pessoas em situação de vulnerabilidade.
Em contrapartida, o presidente do CRB-6 apontou a triste realidade das bibliotecas em Minas Gerais, o Estado com o maior número dessas instituições no Brasil. Álamo trouxe à tona casos alarmantes como o da biblioteca pública de Tiradentes, que, após um ano fechada para reformas, reabriu com infraestrutura ainda precária, acervo deteriorado e móveis danificados. Em Justinópolis, distrito no município de Ribeirão das Neves, ele mencionou o episódio traumático em que funcionários foram mantidos reféns durante um assalto, evidenciando a falta de segurança e de recursos básicos como telefones e computadores.
O artigo também abordou a situação crítica da biblioteca pública de Unaí, que funciona em uma casa alugada cujo proprietário já solicitou que o município a desocupe, com condições tão deploráveis que parte do acervo está mofado e os funcionários enfrentam problemas de saúde devido às condições insalubres.
O presidente Álamo concluiu seu artigo conclamando prefeitos e governadores a priorizarem o investimento em bibliotecas públicas, não apenas como locais de leitura, mas como centros de cultura, educação e inclusão social. Ele ressaltou a urgência de políticas públicas eficazes que garantam o adequado funcionamento dessas instituições, essenciais para o desenvolvimento educacional e cultural de Minas Gerais.
A publicação do artigo no jornal O Tempo, disponível neste endereço, visa sensibilizar a opinião pública e os gestores sobre a necessidade de revitalizar e valorizar as bibliotecas públicas no estado, proporcionando um ambiente digno e seguro para todos os cidadãos.
Leia na íntegra:
Bibliotecas públicas euro-americanas e as de Minas
Por Álamo Chaves
Em países desenvolvidos, as bibliotecas públicas desempenham um papel de relevância na promoção do desenvolvimento das comunidades locais. Para além da curadoria de coleções de livros e da preservação da memória, as bibliotecas públicas cumprem papéis que extrapolam o tradicional, aproximando-se cada vez mais da sociedade.
Em Oslo, capital da Noruega, uma biblioteca pública, escolhida como a melhor do mundo, em 2021, possui um restaurante, um café, um cinema, salas de exposições, um espaço de jogos para crianças e ambientes para leitura de jornais e revistas.
Mas não termina por aí: a biblioteca possui um estúdio de gravação para quem quiser aprender a tocar um instrumento musical, gravar um podcast ou até mesmo discotecar como DJ. Além disso, há impressoras 3D para que qualquer cidadão possa imprimir artefatos tridimensionais, máquinas de costura e de solda e outras ferramentas para a realização de oficinas criativas.
Nos Estados Unidos, onde uma crise habitacional vem se instalando, as bibliotecas públicas têm servido como suporte para muitas das quase 600 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social, intermediando o contato dessas pessoas com instituições que prestam serviços de moradia, saúde e educação, oferecendo programas específicos para esse público, além do fornecimento de roupas e produtos de higiene.
Em Minas Gerais, o Estado com maior número de bibliotecas públicas no Brasil, a situação pode ser bem decepcionante. Na histórica Tiradentes, por exemplo, a situação é crítica. A biblioteca pública funciona no porão da prefeitura e, depois de um ano fechada para realização de melhorias estruturais, reabriu ao público exatamente como estava. O acervo e o mobiliário estão em sérias condições de deterioração, e o local encontra-se abarrotado e mal-acondicionado.
Em Justinópolis, em Ribeirão das Neves, há alguns anos, os funcionários da biblioteca pública foram mantidos reféns durante um assalto. Para terem um mínimo de segurança, os portões têm grades que ficam fechadas, só abrindo quando aparece algum usuário “que não seja suspeito”. Aparelhos telefônicos, computadores e impressoras foram roubados e, até hoje, não foram repostos. Há banheiros quebrados e buracos nas paredes do prédio.
A biblioteca pública de Unaí funciona numa casa alugada, cujo proprietário já solicitou que município a desocupe. A área destinada ao público infantil está em condições tão precárias, que há baldes no chão para aparar as goteiras do teto. O espaço de informática está inutilizado porque os equipamentos estão obsoletos. Além disso, parte do acervo está em estado de degradação tão severo que os funcionários teriam adquirido fungos nas mãos em razão do mofo.
É bom ressaltar que essas bibliotecas públicas mineiras citadas não possuem bibliotecários, os profissionais responsáveis por administrar esses espaços com técnicas e rigor científico para que a população tenha acesso aos melhores serviços.
Os exemplos são muitos, mas o interesse de gestores municipais em fazer das bibliotecas públicas verdadeiros equipamentos de socialização da cultura, de fomento da educação e de incentivo à leitura é baixo.
O investimento em bibliotecas públicas é pequeno se comparado com os inúmeros retornos em prol da sociedade. Isso mostra que, ainda que os benefícios das bibliotecas públicas sejam socialmente imensos, o descaso de prefeitos e governadores para com a população é maior.