Moradora de Piracicaba tem 300 livros no acervo e conta com doações. Ideia é levar cultura aos habitantes de região conhecida por ser violenta.
O quarto do fundo da casa da educadora Mayra Kristina de Camargo, de 38 anos, faz os visitantes acreditarem tratar-se de um “espaço da bagunça” ou, no máximo, um “estoque” repleto de livros empilhados. O local, no entanto, abriga um sonho que vem se tornando realidade aos poucos para a funcionária pública. O cômodo deixou de ser o quarto do filho mais velho e em breve se tornará uma biblioteca aberta a todos os moradores do bairro Santa Fé, na periferia de Piracicaba (SP).
Moradora do local há oito anos, Mayra disse sempre ter pensado em criar algo que a ajudasse a estimular a cultura do bairro, formado por casas sorteadas entre as populações de baixa renda. “Eu sempre quis algo que pudesse mudar um pouco a realidade da minha região, conhecida por ser violenta, e creio que a biblioteca é uma atitude interessante”, disse.
Com livros dos mais variados estilos, ela pretende abrir uma porta na parede do quarto-biblioteca para que as pessoas o acessem pelo quintal, sem precisar passar por dentro da casa. Aos poucos, vem recebendo também a doação de madeira e material para construir prateleiras. O quintal da casa deve ser transformado em um espaço para que os leitores se acomodem.
Até agora, Mayra recebeu 300 livros como doação de amigos ou arrecadados em um evento promovido com a ajuda de parceiros que pediram livros em troca de ingresso. Ela crê que a literatura infantil ainda carece de “reforço”, mas tem sido ajudada por pessoas e instituições, como o Coletivo Piracema e a Casa do Hip Hop, que já doaram e continuam mandando livros. Ainda que sem organização, o local já recebe visitantes.
“Os amigos dos meus filhos aparecem em casa para ouvir músicas e até a minha mãe pegou um livro emprestado da biblioteca. Quero que isso seja ampliado, que o espaço sirva para oficinas e que todos venham aqui”, disse Mayra. A ideia é que a biblioteca comunitária comece a funcionar ainda no segundo semestre deste ano, depois que o local passar por adaptações e reformas. Entre os autores, Graciliano Ramos é o predileto da “curadora” do espaço.
Influência familiar
A própria Mayra, que também é atriz, se diz influenciada pelos pais e acredita que a leitura e a música brasileira são formas de interferir positivamente na formação das pessoas. “Sempre fui pobre financeiramente, mas nunca deixei de me interessar em cultura. Minha mãe me levava ao cinema, levava para passear. Agora eu quero ser essa influência”, contou.
Fonte: G1