A divulgação eficaz da produção científica é essencial para maximizar seu impacto e relevância social. Neste contexto, a altmetria se destaca como uma ferramenta valiosa para medir a visibilidade das publicações acadêmicas. Pensando nisso, o Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região (CRB-6) realizou uma entrevista com os autores da pesquisa “Potencialidades na aplicação da altmetria: uma análise a partir de um periódico no campo da política social”. O artigo, cujo propósito foi compreender como as práticas de divulgação da produção científica podem ser realizadas por um periódico científico para alcançar indicadores altimétricos, é uma produção da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e foi publicado na Revista Ibero-americana de Ciência da Informação.
Esta investigação analisa como um periódico científico pode utilizar práticas de divulgação para aprimorar seus indicadores altimétricos e aumentar sua influência na área de políticas sociais. Os autores Eugênia Magna Broseguini Keys (CRB-6/408ES), Lucas Nicchio Zani e Lucileide Andrade de Lima Nascimento (CRB-6/309ES) compartilham insights sobre os desafios enfrentados e as recomendações para melhorar a visibilidade e o engajamento do periódico.
Confira a entrevista e descubra como a altmetria pode transformar a divulgação da pesquisa acadêmica:
– Qual a definição de altmetria?
Desde a sua emergência e proliferação em 2010, a Altmetria não possui uma definição específica e segue em estudos para uma definição do termo. Em diversas pesquisas é possível notar falta de consenso de pesquisadores para uma definição pois é um campo amplo para estudo. Altmetria é definida como métricas alternativas, sendo tal palavra a junção de 2 termos em inglês: “Alt” de alternative e “metrics” de métricas. Tal termo foi citado/cunhado em 2010 por Jasom Priem em uma rede social (Twitter). A partir daí, foram se conformando as ideias e a definição da altmetria como forma de medir o impacto de uma pesquisa.
– O que diferencia a altmetria dos métodos tradicionais de métrica, como a bibliometria?
As métricas tradicionais visam quantificar o número de citações que os autores receberam dentro de um período, enquanto a altmetria visa quantificar a atenção que a pesquisa recebeu em ambientes online. No Manifesto da Altmetria, criado por Priem, Taraborelli, Groth e Neylon, em 2010, foram incluídas até a quantidade de downloads que um estudo obteve, ou seja, a altmetria vai além de uma citação apenas já que um determinado estudo divulgado/publicado pode produzir impacto mesmo que não seja citado, se levarmos em consideração atualmente a agilidade que uma informação pode alcançar e o público se compartilhado em uma rede social.
– Quais as vantagens de sua utilização em relação aos outros métodos de métrica?
A principal vantagem em utilizar a altmetria é a agilidade do retorno no cálculo do impacto e a visualização em tempo real de como a pesquisa está sendo vista pelo mundo de forma online. Como repositório a principal vantagem é que o leitor, no momento em que acessa a pesquisa ou o estudo publicado, também observa, a partir de um link, a quantidade de blog, leitores no Mendley, se a pesquisa está recebendo e aumentando a confiabilidade do repositório visto possuir bons estudos. Isto acontece a partir dos índices altmétricos disponíveis para esses usuários/leitores trazendo dados abertos ao público sobre o artigo, autor.
– Como a altmetria pode ser utilizada para redução da desinformação e da propagação de fake news?
Empresas altmétricas como a Altmetric, possui um grande número de rastreabilidade de fontes capazes de identificar padrões (não mencionados) e utiliza apenas fontes que podem ser auditadas. Artigos, por exemplo, são localizados através do número do Digital Object Identifyer (DOI), logo, para ser auditado precisa estar vinculado ao Crossref que segue suas diretrizes para aceite de uma indexação. Contudo, é sempre viável verificar todas as fontes de informações diretamente em sua fonte primária.
– Quais são as principais ferramentas e plataformas disponíveis para a coleta e análise de dados altmétricos?
As principais ferramentas atualmente são a Altmetric e a Plum Analytcs. Cada ferramenta tem seu método de trabalho, contudo em ambas é possível notar que utilizam fontes como: redes sociais, menções no Wikipedia, Mendley e citações. Um fato curioso é que enquanto a Altmetric coloca o Youtube como fonte de rastreabilidade a Plum Analytcs não tem esse dado para rastrear, contudo inclui o Linkedin em sua rastreabilidade e a Altmetric deixou de usar tal rede como dado rastreável desde 2014.
– Como escolher a ferramenta ou plataforma mais adequada para as necessidades de um periódico? Quais critérios devem ser considerados nessa escolha?
É necessário entender onde seu público-alvo está compartilhando as pesquisas e quais redes sociais o periódico usa para disseminar a informação. Como exemplo, se eu utilizo um perfil no Linkedin para compartilhar aos seguidores informações sobre as publicações, como editor eu poderia utilizar a ferramenta da Plum Analytcs, já que ela tem o Linkedin como uma de suas fontes rastreáveis. Cabe destacar que, se meu periódico está indexado na Scielo, a Plum Analytcs e a Altmetric já se encontram disponíveis para avaliar o artigo indexado individualmente a partir desta fonte.
– Qual o papel das métricas altmétricas na avaliação da carreira dos pesquisadores?
O papel das métricas é fundamental para que o autor possa ter uma visão em tempo real de como seus estudos e publicações têm reverberado de forma online. A National Information Standard Organization (NISO), desde 2023 apresenta em sua documentação os benefícios que a altmetria pode produzir, por exemplo evidenciando os alcances das pesquisas, a visibilidade junto a agências de fomento e outras instituições em redes e até para colaboração com outros pesquisadores.
– Como as ferramentas e plataformas para coleta e análise de dados altmétricos podem contribuir para a tomada de decisões estratégicas pelos periódicos? Quais informações podem ser extraídas desses dados?
Pode contribuir para insights e na tomada de diversas decisões como, por exemplo, sobre temas a serem debatidos e possíveis áreas para novas discussões, formação do comitê editorial e de pareceristas, dentre outras possibilidades.
– Qual o futuro das ferramentas e plataformas para coleta e análise de dados altmétricos?
As redes sociais têm se expandido e diversas novas redes já estão em uso por pesquisadores, então, logo. Creio que as fontes rastreáveis irão aumentar. Miles e Price (2023) aponta que diversos pesquisadores deixaram de usar o X para a divulgação de suas pesquisas e têm aderido a outras redes sociais. Assim, novos meios de rastreabilidade podem ser incorporados e, desta forma, obter-se a inclusão de novas redes sociais em suas fontes rastreáveis.
– Como a altmetria pode ser utilizada para avaliar a qualidade dos periódicos?
Justamente por alcançar um tipo de monitoramento para além das citações, ferramentas como a Altmetric proporcionam ao periódico a visão clara do artigo que tem gerado engajamento, quais os temas mais recorrentes em pesquisas dentro do periódico e a partir de tais dados é possível avaliar se as publicações estão obtendo retorno solucionando questões que antes não eram visíveis.
– Como a altmetria pode contribuir para a promoção da ciência aberta?
Espera-se que com o amplo reconhecimento desta abordagem metodológica sejam produzidas novos aplicativos de livre acesso, com custos compatíveis para proporcionar a socialização e o livre acesso aos saberes e valores que a altmetria pode possibilitar.
– Quais são as tendências e as inovações nessa área?
Nos parece, a partir de uma leitura empírica da realidade que o uso de métricas alternativas de avaliação de pesquisa caminham alinhadas ao processo de plataformização da ciência: um modelo de produção intensa e altamente mediada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Nesse sentido, observa-se uma crescente tendência global de medição da qualidade e da eficácia da pesquisa por meio de métricas baseadas em publicação e seus efeitos/impactos na comunicação científica. Esta tendência vem produzindo, por efeito, padrões de comportamento entre administradores, editores, Bibliotecários e pesquisadores que demandam ainda análises mais ampliadas e holísticas à luz da sociabilidade científica.
– Quais são as implicações éticas do uso da altmetria na avaliação da pesquisa?
O uso de métricas nos processos de pesquisa sempre existiu e segue ampliando-se em quantidade, escopo e qualidade. A questão atual é que a avaliação é conduzida pelos dados e não por julgamento ou inferências humanas. Para todas as métricas riscos sempre existiram, como aqueles relacionados à má aplicação de métodos bibliométricos, cientométicos ou altmétricos.
Podemos pensar em riscos na aplicação, no uso de dados imprecisos e indicadores arbitrários, nas ferramentas com parâmetros previamente definidos e nas organizações que podem realizar implementações sem o conhecimento necessário e com as intencionalidades que não sejam orientadas ao bem comum ou à preservação dos direitos humanos.
O Manifesto de Leiden, de forma crítica e atual, apresenta recomendações de boas práticas em avaliação de pesquisa a fim de evitar arbitrariedades e penalizações que oneram a vida do pesquisador e das instituições que atuam de forma ética e responsável. Citamos de forma exemplar algumas questões assinaladas pelo Manifesto que podem desencadear problemáticas de natureza ética:
- Os indicadores em ciência e tecnologia também estão sujeitos à ambiguidades e incertezas conceituais sendo regulados a partir de certos fundamentos ou parâmetros que podem ser questionados, pois não são universais. Recomenda-se o uso de vários indicadores para fornecer um quadro mais robusto e plural;
- Proteger a excelência e a relevância de pesquisas de base local, regional ou nacional evitando certos vieses ou comparações, por exemplo, com padrões de excelência em língua inglesa. Alguns campos ou áreas não comportam tais análises;
- A avaliação de desempenho, a escolha dos indicadores e os modos de uso devem considerar os cenários e os contextos socioeconômicos e culturais mais amplos de forma articulada com as metas de pesquisa da instituição, do grupo ou do pesquisador.
– Quais são os principais desafios para a coleta e análise de dados altmétricos? Como esses desafios podem ser superados?
Desafios: a) manter a coleta de dados e os processos analíticos abertos, transparentes e simples; b) manter processos de avaliação quantitativa e qualitativa caminhando juntas e de modo complementar. Indicadores baseados em dados de máquina não deveriam substituir julgamentos fundamentados; permitir que os dados e a análise sejam precisos, verificados, autoverificados e auditados.
Um dos passos essenciais para superação é reconhecer-se a autonomia dos coletivos de pesquisadores e das áreas para selecionar um conjunto de indicadores possíveis para representar essas áreas. Os riscos são grandes na adoção de indicadores produzidos por grandes organizações e regiões no mundo que não se vinculam às atividades específicas das instituições, que por exemplo, apresentam menor poderio financeiro e inserção social internacionalizada. As ciências sociais e humanas não estão bem representadas nos estudos métricos.
Fontes para consulta:
HICKS, D., WOUTERS, P., WALTMAN, L. et al. Bibliometrics: The Leiden Manifesto for research metrics. Nature, 520, p. 429–431, 2015. Disponível em: https://rdcu.be/dWAzP. DOI: https://doi.org/10.1038/520429a . Acesso em: 9 out. 2024.
MILES, R.; PRICE, R. Using Altmetric data responsibly: a guide to interpretation and good practice [White paper]. LIS-Bibliometrics Community, 2023. Disponível em: http://hdl.handle.net/10919/116448. Acesso em: 8 out. 2024.
NATIONAL INFORMATION STANDARD ORGANIZATION. NISO. Baltimore, 2023. Disponível em: https://niso.org/. Acesso em: 13 fev. 2023.
ZANI, Lucas Nicchio; NASCIMENTO, Lucileide Andrade de Lima; KEYS, Eugênia Magna Broseguini. Potencialidades na aplicação da altmetria: uma análise a partir de um periódico no campo da política social. Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação, Brasília, v. 17, n. 2, p. 296–315, 2024. DOI: 10.26512/rici.v17.n2.2024.53816. Disponível em: https://periodicos.unb.br/ index.php/RICI/article/view/53816 . Acesso em: 10 out. 2024.