Em entrevista, Patrícia Lacerda, gerente de Educação, Arte e Cultura do Instituto C&A, conta sobre a parceria com o MBL e traz as expectativas para o ano.
1. Para o Movimento por um Brasil literário, a parceria com o Instituto C&A proporcionou grande desenvolvimento institucional e de diversas atividades até hoje, possibilitando sua existência e crescimento como Movimento. O Instituto C&A é um investidor e parceiro que acreditou nesse utopia da construção de um Brasil literário junto com o Movimento. Nesse sentido, qual é o olhar do Instituto C&A para esse apoio ao MBL e o que tem visto como frutos dessa parceria?
O Instituto C&A tem como um dos seus princípios o desenvolvimento do trabalho em rede. Acreditamos que, quando instituições e pessoas que já trabalham por uma mesma causa se unem, esta causa ganha mais força, legitimidade e visibilidade. Desde o seu lançamento em 2009 até o presente momento o Movimento passou por diversas etapas. No início era uma rede mais informal e com a forte marca da presença inspiradora de Bartolomeu de Campos Queiroz que, além de autor do Manifesto Por um Brasil Literário, instigava a todos a pensar criativa e cuidadosamente os rumos do MBL. Atualmente o Movimento está organizado como uma Associação sem fins lucrativos e tem mecanismos de gestão e desenvolvimento mais claros, envolvendo mais pessoas. O Instituto C&A também mudou ao longo destes anos, refletindo e se posicionando com maior consciência sobre seu papel de Investidor Social Privado que promove a ‘Cultura de Doação’, ou seja, que utiliza seus recursos técnicos e financeiros para fortalecer atores e organizações sociais no seu protagonismo na defesa de direitos sociais da população brasileira, especialmente das crianças e adolescentes. Entendemos que, como Movimento Social, o MBL é um ator politico que tem um importante papel a desempenhar na promoção do livro; da leitura literária e das bibliotecas, no nosso país.
2. Por que apoiar o Movimento por um Brasil literário? Em que esse Movimento se diferencia e quais seus potenciais na contribuição para a construção da sociedade brasileira? Por que a escolha de apoiar um Movimento que deseja um país leitor e leitor de literatura?
A compreensão comum de que a leitura literária é um direito que ainda não está escrito, mas que estrutura o acesso a vários outros direitos, dá sentido permanente a essa parceria. Ela está presente no programa Prazer em Ler que o Instituto C&A desenvolve desde 2006 e em varias iniciativas que apoiamos no Brasil. O Movimento por um Brasil Literário, se diferencia pela sua enfase na literatura e não apenas na promoção da leitura. Essa especificidade é muito agregadora, atrai a atenção de inúmeras pessoas que são apaixonadas e se dedicam de algum modo à literatura. Estamos falando de autores, editores, ilustradores, professores, mediadores e também de uma legião de leitores. Advogar a favor dessa causa apaixonante remete a uma responsabilidade diante do desafio de valorizar simbolicamente a literatura na cultura brasileira. Ainda costumamos ouvir que ler literatura é uma atividade elitista ou até perda de tempo. Portanto, há um longo caminho ainda a ser percorrido.
3. Qual sua visão sobre a estruturação em rede do MBL e o que ela proporciona para a mobilização por um Brasil literário? Em que ela pode se inspirar para desenvolver mais seu pilar mobilizador?
Quando o desejo de construção de um Brasil Literário se manifesta por meio de um Movimento, nasce a intenção de abertura para a ação em rede. Movimento pressupõe pluralidade, ação horizontalizada, múltiplas possibilidades de contribuição. A existência de um site, uma plataforma que congrega e acolhe as pessoas que querem participar do Movimento é um passo importantíssimo. E o numero de conexões só vem aumentando. Mas, se o Movimento quer ter uma ação mais efetiva, um impacto na agenda social do setor, precisa estruturar outras formas de ação. Aí entra a constituição dos Núcleos Regionais e outras estratégias para dar maior capilaridade e concretude à atuação do MBL. Observamos que uma causa clara atrelada e a disposição de ocupar espaços de luta são fatores que fazem avançar os Movimentos. Tivemos recentemente o exemplo do Movimento Passe Livre que trouxe à tona a questão da Mobilidade Urbana como um ponto fundamental da agenda nacional que estava sendo subrepresentado. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação é outro exemplo de movimento que congrega mais de 200 instituições e teve um papel destacado no debate e vitórias sobre financiamento da Educação no Brasil.
Vivemos uma situação aparentemente paradoxal: temos Plano Nacional de Livro e Leitura, temos uma produção literária de qualidade, temos feiras e festas literárias se consolidando, a afluência de milhares de pessoas às bienais de livros e um contingente imenso de pessoas sem a experiência da leitura de literatura. Eis aí um cenario muito interessante para a ação instigadora do Movimento por um Brasil Literario.
Fonte: Brasil Literário