Os faturamentos das livrarias ainda não sentiram a presença do e-book no mercado e consumidores não acreditam no fim das páginas impressas.
Por Rafaela Toledo
Apesar de o mercado digital conquistar veloz e exponencialmente vários ramos do comércio, a presença dos e-books no mercado ainda não atrapalhou os faturamentos das livrarias. É o que informam Victor Hugo Fischer, coordenador de produtos editoriais da Fnac, e Pedro Paulo Ornelas, gerente e sócio da Livraria Leitura. Talvez porque, como Pedro observou, no Brasil, a prática ainda não seja tão acessível nem difundida entre os usuários da rede. Menos ainda entre os possíveis leitores que em linha geral não consistem numa maioria dos cidadãos.
“Eu até esperava um decréscimo maior dos lucros. Talvez nos próximos anos, mas não creio. Porque ainda não está claro para a população como utilizar os e-books. Ainda é difícil e nem todos sabem como utilizar”, comenta o sócio. Ele conta que trabalhou por anos na Inglaterra numa empresa onde vendia e-books e não teve tanto retorno financeiro, mesmo onde a tecnologia já é parte incorporada da cultura. “No Brasil, ainda não é uma realidade. Nos próximos 5 anos acredito que as vendas de e-books vão aumentar, mas não irão atingir o faturamento dos livros. Tenho emprego para os próximos 10 anos, pelo menos”, brinca.
Victor Hugo concorda: “Não sentimos ainda o impacto do e-book na venda de livros. Mesmo porque a entrada deles no Brasil é recente. A cultura do livro ainda é muito forte”, observa.
Cultura do Livro
Segundo Victor Hugo, a cultura do livro entre os afins é muito forte e ele não acredita que a transição do papel para o digital será rápida. “Até nos Estados Unidos, onde a tecnologia digital é muito mais difundida, você não vê as livrarias morrendo. Porque a cultura do livro é muito forte”, avalia.
Apesar de não identificar impacto significativo nas vendas em função da concorrência do e-book, Victor acredita que este seja um processo inevitável, entretanto para um futuro a médio e longo prazo. “Falo isto mais pela cultura social da leitura pelo livro do que pela dificuldade de difusão do e-book”, pondera.
Pedro Paulo acrescenta: “Muito pelo contrário. Os faturamentos das livrarias continuam crescendo em números recordes. Principalmente na categoria infanto-juvenil, a exemplo da contemporânea Saga Crepúsculo, líder de vendas nas livrarias”.
Assim como a televisão não acabou com o rádio, nem ainternet não acabou com a TV, Pedro Paulo acredita muito mais na complementaridade do que na sobreposição dos meios.
Nisto, a estudante Gisele Amorim concorda. “Acho que são suportes diferentes e podem coexistir como o CD e o vinil. Acho que a tendência é livro virar objeto de arte, como aquele que o Zeca Baleiro lançou”, conta a futura bibliotecária que, quando questionada sobre o desaparecimento dos livros, exclama: “Espero que não! Hoje há editoras que seguem esta tendência de livros como um fetiche, mesclando bom design com traduções primorosas”, complementa.
Questão de Preferência
Gisele, sem dúvida, prefere os livros. Conta que lê, em média, três livros por mês e que este número caiu após seu casamento. “Quando era solteira, lia muito mais livros. Já li e-books, mas de assuntos acadêmicos, ou seja, porque fui forçada”, conta rindo. Surpreendentemente, a entrevistada conta que sente dificuldade de ler parada no mesmo lugar, como sentada à frente de um computador. “Leio muito andando. Tenho dificuldade de ficar parada”, diz. Em sua casa, Gisele informa que a leitura é um hábito compartilhado até pelas crianças. “A Sarah ainda não tem muita paciência. Mas a Sophia já tem sua própria biblioteca e está aprendendo a ler”, fala.
Na opinião de Gisele, além da questão que envolve um melhor conforto relacionado aos tipos de suporte para a leitura, existe um ponto mais importante no que diz respeito à formação de leitores. “O livro digital possibilita que uma comunidade mantenha um acervo, como o da biblioteca do Congresso Americano – a maior do mundo – com um custo baixo”, observa.
A acessibilidade destas bibliotecas no formato digital aproxima o e-book das realidades acadêmicas e os livros dos estudantes. Entretanto, Gisele confessa que o branco exagerado de tela lhe dá dores de cabeça e a dificuldade de manuseio do suporte a incomoda.
Thiago Santê, radialista e estudante de Jornalismo, encontrou uma solução para este problema. Como tem o hábito diário de ler, o entrevistado comprou um dispositivo eletrônico para leitura de e-books chamado leitor digital. Semelhante a um tablet, a ferramenta foi desenvolvida para tornar a leitura mais acessível em qualquer lugar porque possui uma tela antirreflexo e uma luz interna com brilho suave e ajustável que pode ser ativada ou não.
“Tenho curtido muito os e-books e percebi que consigo ler até mais. Depois de comprar o leitor digital, minha escolha é pelos e-books pela praticidade. Por existir a possibilidade de comprar por valores mais baixos e até encontrar arquivos em sites de gênero gratuito ou sites de compartilhamento”, esclarece.
Thiago acrescenta que o aparelho utilizado por ele usa uma tinta digital muito semelhante à do livro e não cansa as vistas, mas só conseguiu encontrar a tecnologia disponível on-line. “Ele pode ser encontrado a partir de R$ 260. Mas o meu foi um pouco mais caro, modelo mais novo, R$ 460”.
E-Commerce
Para não perder o nicho de mercado disponível pela internet, a maioria das grandes livrarias aposta no e-commerce de livros. De acordo com o coordenador de produtos editoriais da Fnac, esta é uma fatia fundamental do faturamento da empresa no segmento.
“Quando vendemos para Manaus, por exemplo, alcançamos um cliente o qual não teríamos acesso se não fosse pela internet porque não temos lojas lá. A internet concentra num único local, a baixos custos operacionais, uma capacidade enorme de conquistar clientes num território ilimitado”, avalia.
Mais importante do que o formato de leitura fica a reflexão da entrevistada: “o importante é formar leitores!”
Fonte: Diário da Manhã