Geovanna Rocha diz que obra visa tratar do tema sem o ‘olhar pessimista’. Livro ‘Vovô virou estrela’ será lançado na quinta-feira (13), em Goiânia.
Com o objetivo de fugir do “olhar pessimista sobre a morte”, a estudante Geovanna Neves Rocha, de 16 anos, escreveu um livro sobre o assunto voltado ao público infantil. A goianiense conta que aproveitou uma experiência pessoal para levar às crianças uma nova perspectiva do tema. “Esse é um assunto negativo, pesado. Por isso, decidi abordá-lo sem ao menos citar a palavra morte no decorrer das 25 páginas do livro. Ela não é o fim”, contou a escritora em entrevista do G1.
O primeiro livro da garota, que tem o título “Vovô virou estrela”, será lançado na próxima quinta-feira (13), às 19h30, na Livraria Saraiva do Shopping Flamboyant, em Goiânia. “Ver o livro pronto e publicado é a realização de um sonho. Meu objetivo é falar da morte sem ideologias ou questões religiosas, mas para que tanto as crianças quanto os adultos possam entender o que acontece no processo natural da vida”, conta.
Geovanna, que ainda cursa do segundo ano do ensino médio, diz que o gosto pela literatura começou desde a infância. “Quando ainda não sabia ler, lembro de olhar para as figuras dos livros e inventar minhas próprias histórias a partir daqueles contextos retratados ali. Entre os livros que marcaram a minha infância está ‘Tipo Assim, Clarice Bean’, da escritora britânica Lauren Child. Além disso, gostava muito dos gibis da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, e de livros de escritores como Ruth Rocha”.
Ela relata que o tema para sua obra partiu da sua experiência com as mortes dos avôs, das quais ela ficou alheia. “Meu avô paterno, Vicente, morreu em 1990 e eu não cheguei conhecê-lo. Mas com o materno, João, convivi muito durante a infância e, quando ele morreu, em 2005, não tive muitas informações sobre o que tinha acontecido. Fui sentir falta dele mesmo quando fiz 11 anos e, na minha festa, ele não estava presente. Só aí tive a real noção do que significavam os termos ‘virou estrela’ e ‘foi viajar’, que me disseram na época do funeral”, lembra Geovanna.
A partir daí, ela se interessou pela vida dos avôs e juntou a história dos dois em um único personagem, o vovô do livro.“Passei a perguntar para minhas avós e familiares sobre como eles eram, do que gostavam, os seus ofícios. Fiquei cada vez mais interessada e, com todas as informações que obtive dos dois, criei o vovô que vira estrela. No texto relato essa relação próxima dele com sua netinha e apresento a morte dele usando os jargões, mas sem esconder que ele partiu para sempre”, conta a escritora.
Criação
O livro é desenvolvido desde 2012 por Geovanna. “Já escrevi muita coisa, mas desde 2011 passei a guardar meus textos. Esse livro surgiu no ano seguinte e, em outubro do ano passado, levamos o material para a editora e eles gostaram. No mês seguinte me disseram que seria publicado”, relata.
Segundo a adolescente, ela teve ajuda de amigos e familiares para a concretização do trabalho. “Quando fomos até a editora, queriam que eu fizesse também as ilustrações do livro, para ser bem original. Eu até tentei desenhar, mas descobri que eu não tinha habilidades para manter a padronização em todas as páginas. Aí recorri ao meu irmão, Guilherme, que me ajudou com os desenhos. No fim, virou uma obra familiar”.
O irmão de Geovanna tem 20 anos e estuda engenharia. A irmã conta que ele sempre gostou de desenhar e apresenta em oito páginas do livro seu primeiro trabalho como ilustrador. “Esse livro não é só meu, pois o Guilherme me ajudou muito e capturou a essência da história nos desenhos. Também tive ajuda de amigas e primas na hora de colorir as imagens. Tenho que agradecer a todos eles”, ressaltou.
Sonhos
A estudante diz que, apesar da data marcada para o lançamento do livro, ainda não acredita que virou escritora. “A ficha ainda não caiu. Eu sempre sonhei com isso e escrever um livro estava na lista das minhas metas, junto com estudar psicologia e ter minha própria companhia de teatro”.
O pai de Geovanna, o comerciário Vicente Rocha Filho, 46 anos, diz que o reconhecimento do talento da filha representa o sentimento de “dever cumprido”. “Logo depois que a ela começou a ser alfabetizada, eu e minha esposa, Roseni, a incentivamos, inicialmente com os gibis. Aí ela desenvolveu a leitura muito rápido e passou a se interessar por outros gêneros. Nos aniversários, no lugar de pedir brinquedos, como todas as outras crianças, ela pedia livros e passou a acumular coleções. Fico feliz com o caminho que ela seguiu”, diz.
Segundo Vicente, a editora aceitou o livro sem fazer modificações no texto e isso o deixa ainda mais orgulhoso. “Eles disseram que o tema é pouco explorado e aceitaram tudo na íntegra, do jeito que ela escreveu. Com certeza é a realização de um sonho”, afirma.
O pai conta que, inicialmente, os livros serão vendidos apenas na livraria Saraiva. “Mas depois devem fazer o trabalho de divulgação país afora e nas escolas, para que ele seja usado como material pedagógico”, afirma.
Para Geovanna, a obra é apenas a primeira de muitas que ainda virão pela frente. “Tenho muitas coisas em mente, até um romance que já escrevo mesmo antes desse publicado agora, e quero continuar escrevendo. Também tenho ideias de contos, poemas, enfim, sonho em publicar muita coisa”, revela.
Fonte: G1 GO | Fernanda Borges