Mesmo com baixas e sob ataques simultâneos de gigantes e piratas, elas resistem. Parece a sinopse de um filme de ação, mas é um resumo da situação das cerca de 3.000 videolocadoras existentes no Brasil.
Antes soberanas na oferta de filmes para espectadores de sofá, as locadoras, que já foram mais de 9.000 no país, perderam público para os serviços de streaming, vídeo sob demanda, e também para os downloads e discos ilegais.
Para fazer frente às ameaças, os empresários investem na diversificação dos produtos oferecidos, no atendimento personalizado e em um acervo com obras mais difíceis de se achar na internet.
A ideia não é apenas sobreviver. É continuar com um negócio que foi porta de entrada de muita gente no mundo do cinema e desperta paixões entre clientes e empresários.
“Está difícil, mas é duro largar o osso. Gosto demais disso aqui”, diz bem-humorado Paulo Sérgio Pereira, 59, proprietário há 30 anos da Connection Video, localizada no Edifício Copan, no centro de São Paulo.
Pereira, que já teve mais de dez pontos de venda pelo Brasil e hoje mantém apenas um, trabalha para fazer a visita dos seus 300 clientes à loja valer a pena. “Aqui a gente conversa, indica o filme que sabe que ele vai gostar.”
Um deles é o músico Supla, 49, que adquiriu o hábito de alugar filmes em Nova York, nos anos 1980.
“Sou meio ‘old school’ e sei que alguns tipos de filmes só estão nas locadoras”, diz.
A Connection também faz conversão de antigas fitas VHS para DVDs para tentar não operar todos os meses no vermelho, conforme revela seu proprietário.
Para Rodrigo Amantea, coordenador dos programas de educação executiva do Insper, oferecer outros produtos e serviços é um bom chamariz para clientes. “Eu ainda alugo filmes e sempre levo um chocolate ou uma bala da loja”, afirma.
A combinação do acervo vasto -15 mil títulos- com outros itens também é a estratégia de Carlos Cardoso, 52, da Premiere Video, no Morumbi, na zona oeste de São Paulo, inaugurada em 1986.
Seus cerca de 1.200 associados pagam R$ 12 para ficar por dois dias com um filme de lançamento e um outro de catálogo. Por R$ 15, podem alugar, pelo mesmo tempo e no mesmo esquema, discos de videogame.
Os jogos, que podem custar mais de R$ 200 para compra, são vistos como o elixir da longevidade para o ramo.
“O consumidor de videogame exige o produto original, mas nem sempre pode comprá-lo. Alugar, nesse caso, faz ainda mais sentido”, diz Tânia Lima, diretora-executiva da UBV & G (União Brasileira de Vídeo e Games).
Disco de ouro
O melhor momento das locadoras no Brasil ocorreu por volta de 1998, quando o DVD substituiu as fitas VHS.
Veterano do mercado, Paulo Gustavo Pereira, autor do “Almanaque dos Seriados”, avalia que o erro deste setor foi apostar só na locação.
“Muitos resistiram em vender também os filmes. Acreditavam que isso poderia prejudicar o aluguel e deixaram de se garantir em outro nicho”, afirma.
A chegada ao mercado dos discos Blu-Ray, em 2006, não foi tão impactante.
“À época, a pirataria de discos físicos, que já era enorme, ganhou o reforço dos sites de download”, diz Mário Breis, gerente da WMix, distribuidora para locadoras.
Gustavo Ribeiro, 42, chegou a oferecer 300 títulos de Blu-Ray 3D na Laser Home Video, no bairro do Itaim Bibi.
Ele decidiu manter-se fiel apenas à oferta de filmes até fechar a loja, em 2013.
“Muitos clientes choraram quando disse que a Laser ia fechar. Eu também sinto muita falta. Mas não queria vender chocolates ou alugar videogames para continuar.”
Com o movimento menor, o negócio ficou insustentável. “A loja existia apenas para agradar os clientes. Decidi sair de cena quando ainda éramos queridos”, diz ele.
Apesar das dificuldades, o professor do Insper Rodrigo Amantea diz não acreditar no fim das locadoras.
“Enquanto a banda larga no Brasil for ineficiente e cara, esse mercado ainda terá muita força”, diz ele.
“E, mesmo que perca ainda mais peso comercial, pode acabar se tornando cool, como os discos de vinil.”
Fonte: Folha de S. Paulo | Diego Iwata Lima