Domicela Marques dos Anjos diz que a leitura é uma fuga para seus problemas; ela já leu mais de 500 obras em português e 200 em polonês
Desde criança, Domicela Marques dos Anjos foi apaixonada por livros. Hoje com 82 anos de idade, a aposentada de descendência polonesa se orgulha de ter lido mais de 500 obras em português e mais de 200 em polonês. “Leio em polonês desde criança. Antes de ir para a escola eu só sabia falar polonês”, conta relatando também que sofreu dificuldades para se comunicar quando foi para a escola aos oito anos de idade. “Eu achava engraçado falar em português, mas a maioria dos colegas não sabia falar polonês”, diz. Domicela recorda que em 1930 durante o governo de Getúlio Vargas as línguas estrangeiras foram proibidas no Brasil Somente a língua portuguesa era permitida nas conversações. A aposentada lembra que existia uma escola para poloneses em Irineópolis onde residia, que teve de ser fechada, pois era proibido falar outras línguas no País. “Getúlio Vargas proibiu tudo, até beijo no rosto era proibido”, recorda.
VIDA
Domicela nasceu na localidade de São Pascoal em Irineópolis e estudou o ensino primário até os 11 anos de idade na escola da localidade. Segundo ela, naquela época era difícil que os pais mandassem os filhos para concluir os estudos fora. Porém, seu pai a incentivava à leitura e seus parentes de Curitiba mandavam livros em polonês para que ela pudesse ler e aprimorar seu gosto pela leitura. Até os 21 anos, Domicela morou na localidade de São Pascoal com seus pais trabalhando na agricultura. Em 1951, ela se casou com Isidoro Marques dos Anjos, já falecido, com quem teve dez filhos. Seu esposo era caminhoneiro e conseguiu um emprego em Canoinhas para onde se mudou com a família. Depois de alguns anos a família se mudou para Três Barras onde Domicela e os filhos residem até hoje. Domicela conta que no início do casamento o marido não concordava com sua paixão pelos livros, mas mesmo com a resistência grande, ela não se deixou intimidar. “Ele teve que se acostumar, pois viu que não tinha jeito. Eu não iria deixar dos meus livros”, recorda a aposentada para quem a leitura é uma fuga para seus problemas. “Cuido da vida dos personagens dos livros e deixo a minha de lado um pouco”, diz. Segundo ela, foram tantos livros que a impressão que tem é de que o mundo todo já passou por suas mãos. “Já li tantos livros que acho que conheço o mundo todo por meio deles. Conheço o mundo sem sair da minha casa”, conta orgulhosa. Ela reserva um grande espaço de tempo durante seu dia para a leitura. Entre uma e outra tarefa sempre deixa um tempo para seus livros. “Sempre fui apaixonada por ler e gosto muito por isso separo meu tempo”, comenta. Entre os livros de sua preferência estão os policiais e os romances. “Gosto mais de ler os livros poloneses, pois os autores buscam trazer mais detalhes para o leitor. Parece que você está ali, vendo a cena”, explica a aposentada que se diz encantada pela história de Anna Karenina, descrita no romance de um escritor russo publicado entre 1873 e1877. “Anna Karenina foi o livro que eu mais gostei de ler. O livro é tão bom que virou filme”, conta. Católica, mas sem preconceitos e com muita disposição para descobrir e aprender cada vez mais, Domicela se diz uma eterna aprendiz. “Leio sobre tudo, inclusive sobre outras religiões… Eu não tenho preconceito, já li sobre a maçonaria, budismo e de tantas outras religiões e seitas que existem”, conta reafirmando que respeita todos os credos religiosos. Além dos livros, ela diz que o maior orgulho de sua vida foi ter criado seus dez filhos com muito respeito.
Fonte: Correio do Norte Online | Ellen Colombo