Os livros são totalmente importantes na formação cidadã e cultural das pessoas, mas nem todos sabem que as bibliotecas possuem as ferramentas necessárias para este meio. O Amazonas, ao contrário de muitas cidades do País, conta com uma grande quantidade de espaços dedicados à leitura. Três escritores falam sobre a importância da biblioteca nas suas carreiras e vidas.
Zemaria Pinto, escritor e poeta com mais de 30 anos de atividade, apesar de ter sido criado numa casa sem livros, como ele próprio relatou, encontrou nas bibliotecas o universo prazeroso da literatura. “Fui criado numa casa sem livros. Eu lia em bibliotecas do Estado e de colégios onde estudei, como o Ruy Araújo e o Estadual. No nível médio, também frequentava a biblioteca pública do Estado, que fica na rua Barroso (Centro). Elas foram fundamentais na minha formação. Sem elas, eu não seria um leitor”, garante Pinto, recordando ainda que o primeiro livro que leu em sua vida foi “O tronco do Ipê”, de José de Alencar, mas que não gostou muito do enredo da história.
“É uma obra muito romântica, simples, onde tudo dá certo. Acho que já era um pouco punk à época, por isso aquilo não me agradou”, explicou o escritor, complementando que ao ler “São Bernardo”, de Graciliano Ramos, se encontrou e desde lá não parou de aprofundar ainda mais seu hábito de ler. “Ela mostra a miséria em outras dimensões, níveis. A miséria no Nordeste continua muito forte, infelizmente”, explicou o poeta, ao falar sobre o conteúdo de “São Bernardo”.
Descoberta
“Rato de biblioteca” declarado, o escritor Elson Farias contou que durante sua infância e juventude ia com frequência em bibliotecas dos municípios de Parintins e Manicoré. Já em Manaus, seu “point” era a biblioteca pública do Estado e a municipal João Bosco Pantoja Evangelista. No entanto, seu contato com os livros veio de casa. “Eu nasci num roseiral, no interior de Itacoatiara, e na minha casa tinha uma pequena biblioteca e lá foi o meu primeiro contato”, declarou o autor de “Barro verde”.
Ainda de acordo com Farias, é de extrema importância que em todos os municípios do Amazonas e nos bairros de Manaus haja uma biblioteca, com sistema de empréstimo de livros e acervo atualizado. “A gente aprende muito lendo e até hoje leio bastante”, salientou o imortal da Academia Amazonense de Letras (AAL).
Para Pinto, é necessário encarar que houve mudanças na forma de encarar a biblioteca e, por isso, é importante investir mais em publicações digitais, que possam permitir, por meio da Internet, o uso de livros em outra escala. “É claro que o livro de papel tem uma grande saída, mas o livro digital veio mudar muitos conceitos”, defendeu.
Mundo digital
A jovem escritora Priscila Lira (foto), de 22 anos de idade, autora de “Manual de feitiçaria”, acredita que as bibliotecas digitais vieram diminuir as distâncias entre leitor e obra. “Hoje eu posso ter acessos a bibliotecas de outros países. Isso é algo muito importante para quem trabalha com pesquisa, para quem gosta de conhecer coisas mais alternativas e que não estão no mercado editorial. Essas bibliotecas digitais vieram encurtar essas distâncias geográficas”, afirmou Priscila, que ama o ambiente da biblioteca.
“Uma das coisas que aprendi com meu contato foi a me familiarizar com os livros. Sua relação com os livros muda quando você frequenta a biblioteca. A pessoa se familiarizar com o objeto do livro, porque acaba manuseando muitos. É importante que as pessoas possam ter esse acesso físico. Na biblioteca, eu conheci Shakespeare, Dante, Chico Buarque, coisas que ninguém me mandou ler. Estava passeando pelas estantes e decidi lê-los”, contou a escritora, que durante anos se “deliciou” com os títulos presentes na biblioteca do extinto Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas (Cefet-AM), hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), onde estudou durante alguns anos.
Fonte: A Crítica