Data de publicação: 30/12/2012
Por Terra – Educação
Durante a aula de uma turma de segundo ano da Escola Estadual Alfredo Bresser, em São Paulo, Edilaine Soares de Souza conta uma história. Para 27 atentas crianças de sete e oito anos, relembra seus tempos de estudante e descreve uma sala repleta de livros. Assim como muitos dos que a ouvem, a professora também já teve medo daquele lugar. Achava-o sombrio. Mas o incentivo da família e da escola a transformaram em uma apaixonada pela leitura. Agora, ela busca passar essa paixão adiante apostando em um campeonato. Quem ler mais ganha um prêmio: conhecimento.
Em todas as semanas de aula de 2012, os alunos retiravam de um a três livros na sala de leitura da escola, que foi reformada pelo Grupo Camargo Correa e recebeu doações de alunos do Sesi. A quantidade de obras era estipulada por cada um – e havia a possibilidade de não retirar nenhuma. “Ninguém era obrigado a ler, porque essa não é a solução. Mas eles eram estimulados a se aproximar desse universo”, explica Edilaine. O trabalho teve acompanhamento da auxiliar Daiana Agda Santos Nascimento, responsável por conferir as fichas de leitura preenchidas com informações sobre enredo e personagens. A prática evitava que houvesse trapaça na competição e garantia que as histórias realmente fossem compreendidas.
A ideia surgiu quando Edilaine trabalhava em outra escola pública. “O intuito é aproximá-los dos livros e permitir que tenham tempo para mergulhar na leitura”, explica. Para a professora, um dos grandes motivos pelos quais os alunos não demonstram interesse é a falta estímulo para quem leiam na escola e, principalmente, em casa. Em muitas instituições brasileiras, é comum que as idas à biblioteca permitam que a criança leia, mas acabe tendo de abandonar a obra pela metade, pois não é possível levá-la para casa – ou porque, em casa, tem outros passatempos.
Aluna campeã leu 75 livros no ano
Ao todo, a turma leu 961 livros. A aluna campeã alcançou a marca de 75 obras, enquanto o segundo e terceiro lugares leram, respectivamente, 66 e 63 histórias. Os melhores desempenhos foram premiados com brinquedos e livros, e todos os participantes ganharam brindes e certificado. O objetivo, no entanto, não era estimular a competição. Edilaine conta que, no início do ano, conversou com os pais para explicar a ideia. “Cheguei a pensar nos perigos de propor uma espécie de disputa, mas o grande objetivo era mostrar que, independentemente da posição, todos estariam ganhando com a leitura”, conta.
Incentivar o hábito da leitura desde o início é extremamente importante para o desenvolvimento de crianças. A psicóloga infantil comportamental Jéssica Fogaça afirma que o exemplo deve partir da professora. “Ela deve mostrar para o aluno que ela lê, deve carregar livros, deve mostrar que se interessa por esse mundo também quando está fora da escola. O livro não pode estar restrito à sala de aula”, diz. Para que a competição não cause desconforto e realmente atinja seus objetivos iniciais, a especialista, que também trabalha à frente de um projeto de leitura no Instituto Engevix, diz que é preciso mostrar que o prazer pela leitura deve estar acima de tudo. “Tem muito mais a ver com mostrar que eles podem fazer coisas grandiosas, cada um dentro de suas possibilidades, do que apontar quem é melhor ou pior”, acrescenta.
Ao final da contagem, as profissionais conversaram com os últimos colocados. “Percebemos que normalmente aqueles com pior desempenho não tiveram tanto apoio em casa. Eles mostravam interesse na escola, mas isso não se estendia ao ambiente familiar”, destaca. Os próprios alunos reconheceram a importância da leitura e se mostraram interessados em melhorar o desempenho daqui para frente.
“O que importa, ao final, é que todos apresentaram crescimento tanto em leitura, quanto em escrita”, afirma. Edilaine pensa em dar continuidade ao campeonato de leitura – e deve ter o apoio da escola para isso. De acordo com a coordenadora pedagógica da instituição, Ailana Barbosa Nunes, os alunos ficaram muito motivados, e o trabalho da professora tem inspirado outros profissionais. “Foi uma experiência que deu certo e que nos ajudou muito a desenvolver a parte pedagógica. Os pais também se envolveram e abraçaram a ideia. Isso foi fundamental”, diz.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/,8d0388eda0edb310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html