As resenhas de consumidores na Amazon, a gigante do comércio eletrônico, estão tornando-se armas destinadas a afundar novos livros assim que eles são publicados.
Na maior e mais bem-sucedida dessas campanhas, um grupo de fãs de Michael Jackson usou o Facebook e o Twitter para solicitar resenhas negativas para uma nova biografia do cantor. Eles bombardearam a Amazon com dezenas de avaliações falsas e conseguiram que vários comentários favoráveis ao livro fossem apagados.
“Os livros costumavam morrer ao serem ignorados, no entanto, hoje eles podem ser mortos –e talvez injustamente”, disse Trevor Pinch, sociólogo da Universidade Cornell em Ithaca, em Nova York. “Na teoria, um livro muito bom poderia ser morto por um grupo de pessoas por motivos torpes.”
Em “Untouchable: The Strange Life and Tragic Death of Michael Jackson” [Intocável: A estranha vida e a trágica morte de Michael Jackson], Randall Sullivan escreve que o uso excessivo de cirurgias plásticas por Jackson reduziu seu nariz a pouco mais que duas narinas e que o cantor morreu virgem, apesar de ter se casado duas vezes. Esses pontos enfureceram os fãs de Jackson.
Fora da Amazon, o livro teve uma recepção variada. Mas, no mercado, foi um fracasso.
Os fãs, que se autodenominam Equipe de Reação Rápida de Michael Jackson a Ataques na Mídia, dizem que estão exercendo seu direito à liberdade de expressão quando protestam contra um livro que eles consideram explorador e impreciso. Mas a editora da obra, a Grove Press, disse que o sistema de resenhas da Amazon está sendo alvo de abusos em uma campanha organizada. “Relutamos muito em interferir, mas é preciso haver transparência sobre os motivos das pessoas”, disse Morgan Entrekin, presidente da Grove/Atlantic.
A Amazon disse que as resenhas dos fãs não violaram suas diretrizes, mas não quis tecer outros comentários. A loja on-line, como outros sites que apresentam resenhas dos clientes, enfrentou o problema dos chamados “fantoches”, pessoas secretamente encarregadas por um autor de produzir comentários favoráveis. A Amazon esforça-se para remover resenhas de pessoas que considera próximas ao autor.
Já as resenhas “de ataque” são difíceis de policiar. É difícil detectar a diferença entre uma crítica autêntica e um autor tentando derrubar um colega ou ataques organizados de fãs.
Com “Untouchable”, a Grove esperava um modesto best-seller. O livro foi divulgado pela revista “Vanity Fair”, e Sullivan, que vive em Portland, em Oregon, promoveu a biografia em programas de entrevistas na TV. A Amazon selecionou a obra como um dos melhores livros de novembro.
Nada disso ajudou quando Sullivan fez suas queixas, dizendo que resenhas factualmente falsas dominavam a página. A livraria respondeu com uma mensagem padrão: “Fique tranquilo, leremos cada uma das resenhas e retiraremos qualquer uma que viole nossas diretrizes”. Em uma entrevista, Sullivan perguntou: “As pessoas devem ter a permissão para fazer comentários evidentemente falsos sobre o conteúdo de um livro ou seu autor?”.
Embora a maior parte de “Untouchable” concentre-se nos últimos anos caóticos da vida de Jackson, a obra é um retrato, de modo geral, simpático ao astro. Por exemplo, Sullivan tenta refutar a ideia de que o cantor tinha relacionamentos perturbadores com meninos. Mas, mesmo antes de o livro ser lançado oficialmente, em 13 de novembro, a Equipe de Reação Rápida de Michael Jackson a Ataques na Mídia declarou: “Está na hora de agir!”.
Em duas semanas, o livro tinha quase cem resenhas anônimas negativas. Um administrador do grupo de fãs, que se identificou como Steve Pollard, disse que atacar “Untouchable” era “uma responsabilidade moral”. Pinch disse que “conforme mais abusos vierem à luz, o efeito geral será um lento desgaste do processo”.
A Grove distribuiu 16 mil exemplares do livro. A Nielsen BookScan, que acompanha o comércio, contou somente 3.000 vendas.
Durante algum tempo em janeiro, “Untouchable” foi superado na Amazon por um livro sobre a linguagem corporal de Jackson, “Behind the Mask” [Por trás da
Fonte: Folha de S. Paulo | UOL | David Streitfeld