“Tem três anos que não leio um livro”. A fala do presidente Bolsonaro levou o presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região de Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-6), Álamo Chaves (CRB-6/2790), a escrever o artigo “Cenário otimista para leitura de livros”, publicado pelo portal do jornal O Tempo e no jornal impresso, ambos, no dia 29 de dezembro.
Leia o texto na íntegra:
Cenário otimista para leitura de livros
***Álamo Chaves, presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região de Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-6)
Uma recente fala do presidente Bolsonaro alerta para uma situação delicada quanto à leitura de livros no Brasil. Ele afirmou que não lê livros já há um bom tempo: “Tem três anos que não leio um livro”. De fato, talvez este seja o cenário brasileiro em que o hábito de ler livros precisa ser incentivado e ensinado, de modo a educar as novas gerações. Mas, apesar do discurso que ora desespera, é preciso ser otimista. A leitura de livros proporciona muitos benefícios, e, felizmente, a venda deles tem crescido nos últimos meses.
É possível que muitas pessoas desconheçam os benefícios da leitura. O hábito de ler é importante para o desenvolvimento criativo e intelectual de crianças e adultos. Entretanto, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores em quatro anos, segundo pesquisa do Ibope de 2019.
Não há desculpa para não ler. A tecnologia tem facilitado o processo de empréstimos e renovações de livros em bibliotecas. As livrarias e editoras têm vendido cada vem mais pela web. Muitas pessoas passaram a optado pelo acesso a livros digitais em seus smartphones, tablets e computadores.
Com apenas poucos cliques, é possível encontrar diversas publicações na internet, conforme o interesse de cada um. Desse modo, o material sempre estará disponível para o leitor. E quem utilizar livros de uma biblioteca tem a facilidade de renovar o empréstimo online. De certa forma, é compreensível que o presidente não esteja dentro da faixa de leitores assíduos, pois dados revelam que os jovens leem com maior frequência que as pessoas com mais idade.
Apesar do boom tecnológico, o hábito de comprar livros não acabou. Segundo o 11º Painel do Varejo de Livros no Brasil, realizado pela Nielsen BookScan e divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, as vendas do setor cresceram 33,03% em volume e 31,14% em valor, no acumulado de janeiro a novembro de 2021, em comparação com igual período de 2020. O cenário é otimista para o mercado brasileiro e mundial, já que se encontra em expansão.
É possível o crescimento se estender para 2022, talvez de modo não tão significativo. O resultado superou o desempenho obtido no último ano, quando foram vendidos 41,9 milhões de exemplares, com receita de R$ 1,74 bilhão. No acumulado, o varejo registrou 43,9 milhões de livros comercializados, em 2021, faturando R$ 1,83 bilhão, contra 32,99 milhões de unidades vendidas, no mesmo período de 2020, gerando uma receita de R$ 1,39 bilhão.
Há algumas dicas para desenvolver o hábito da leitura, como ler diferentes estilos, até encontrar os que realmente prenderão a atenção. É importante começar aos poucos. Não há necessidade de ler o livro todo de uma vez e no mesmo dia. Não é preciso adquirir um livro com um número expressivo de páginas. A recomendação é respeitar a dinâmica de cada um. A falta de tempo é apontada como um dos principais obstáculos. E há que quem não goste mesmo de ler. Porém, é possível criar estratégias que despertem o interesse pela leitura. A jornada pelas descobertas literárias deve ser uma experiência única para cada um. Não há receita pronta, a dica é começar.