Com preços baixos, livros de Machado de Assis e outros escritores aparecem na lista dos mais vendidos
Nas listas de livros digitais mais vendidos no Brasil, os eróticos inspirados em Cinquenta tons de cinza ganharam uma companhia ilustre. Desde que os e-readers chegaram ao Brasil, no final de 2012, um volume com as obras completas de Machado de Assis aparece no topo da lista do Kobo, ao lado de coletâneas de outros autores. Por R$ 2, o leitor coloca em sua biblioteca digital 26 livros do mais consagrado escritor brasileiro, incluindo seus principais romances, peças e contos. Também é possível encontrar livros gratuitos (ou a preços que não chegam a R$ 7) de autores brasileiros, como José de Alencar e Camillo Castello Branco, e estrangeiros, como Fiódor Dostoiévski, cuja edição traduzida de O idiota é mais vendida que os volumes de A Guerra dos Tronos, de George R.R. Martin.
A explicação para o preço baixo é a legislação brasileira de direitos autorais, semelhante à de outros países. Setenta anos após a morte do autor, sua obra passa a ser de domínio público. Qualquer um pode publicá-la sem pagar nada aos herdeiros. Isso permite que elas sejam encontradas na internet gratuitamente ou em versões baratas, feitas por editoras de e-books, que só têm o trabalho de reunir e organizar o conteúdo, sem pagar nada por isso. São obras que já estavam disponíveis a preços baixos há muito tempo, mas só começaram a ser compradas em massa pelos leitores com a popularização do livro digital no Brasil.
O sucesso comercial das Obras completas de Machado de Assis mostra que há muito espaço para os clássicos nas prateleiras virtuais. Mas a pechincha nem sempre é a melhor opção. Em geral, as coletâneas que reúnem vários livros por menos de R$ 5 têm uma edição descuidada e poucos textos de apoio. As obras completas de Machado de Assis publicadas pela editora Samizdat Express não respeitam o Novo Acordo Ortográfico e são acompanhadas apenas por uma biografia de Machado retirada da Wikipédia. Edições de clássicos publicadas por editoras como a L&PM e a Penguin/Companhia das Letras custam um pouco mais, mas têm um acabamento melhor.
O leitor também deve ter cuidado para não cair na pirataria com livros traduzidos. Nesse caso, a regra dos 70 anos vale para a data de morte do tradutor, não do autor. “A tradução é considerada uma adaptação do livro e está sujeita às mesmas leis de direitos autorais”, diz José Carlos Costa Netto, presidente da Associação Brasileira de Direito Autoral (ABDA). Uma tradução também é protegida por direitos, mesmo que o livro esteja em domínio público. Quem quiser ler livros estrangeiros em domínio público gratuitamente (e puder desbravá-los no idioma original) pode encontrar boas edições em sites como gutenberg.org e archive.org. A oferta de obras em inglês é o forte dessas páginas. É possível encontrar também livros em francês e alemão.
Fonte: Época | André Sollitto