A poucos dias da Copa das Confederações e em fase de testes para a Copa do Mundo, o Brasil fala, ouve, respira e lê futebol. Há quem questione se o país está realmente preparado para receber eventos esportivos de grande porte. Será? Ao menos o mercado editorial – esse podemos garantir – está com a bola toda. Lançamentos vão desde romance policial sobre assassinato de um craque, passando por ensaios fotográficos, estudos com base em princípios físicos e filosóficos, até guias para não fazer feio ao entrar em campo (ou nas arquibancadas).
Para os fanáticos pelo bate-bola de bairro, de meio de rua ou terreno baldio, a leitura indispensável é Pelada (Zahar, R$ 44,90, 320 páginas), relato da jogadora norte-americana Gwendolyn Oxenham, que durante três anos percorreu 25 países com a bola no pé, literalmente. Pelos quatro cantos do mundo, ela travou partidas junto a executivos japoneses no topo de arranha-céus, barqueiros brasileiros no meio do mar, presidiários bolivianos, garotos em favelas argentinas… Personagens cujas biografias ficam mais claras a cada lance.
A autora já morou no Brasil, jogou profissionalmente pelo Santos, e relembra ao longo das páginas várias experiências por terras tupiniquins: “Ninguém falava inglês; eu não falava português. Jogávamos de sete a oito horas por dia. (…) O homem sem camisa passava os dedos nos pelos do peito enquanto nos contava sobre as tais peladas de rua. ‘Pelada’, a palavra brasileira para ‘pickup’, significa estar sem roupa, talvez porque seja a forma mais simples de jogar, despido ao máximo”.
E caso alguma leitora do sexo feminino não seja tão entendida do assunto quanto Gwendolyn, uma opção é Tudo o que as mulheres queriam saber sobre futebol – Mas tinham medo de perguntar, do jornalista e escritor pernambucano Álvaro Filho. Publicada em 2006, a obra foi revista, atualizada e relançada em formato digital. Carregado de bom humor, o e-book traz a história do esporte, as regras, esquemas táticos, glossário e até manual de etiqueta para frequentar estádios.
“Tentei reaproximar as mulheres desse universo masculino, para que aquelas que ainda não jogam nesse time possam vestir a mesma camisa dos companheiros. A intenção é fazer com que a leitora não fique escanteada, mas participe, torça junto, xingue o árbitro. Afinal, futebol é um esporte coletivo”, diz Álvaro. E para os homens que também não compreendem o vai-e-vem dentro das quatro linhas, o autor já planeja novo livro. “Muitos fazem pose de comentarista e não sabem nem quem é o juiz. Vou lançar o Pequeno dicionário futebol-português, ilustrado e unissex”.
ESCALAÇÃO
A tabelinha entre futebol e literatura está presente na obra de vários escritores, desde Graciliano Ramos, Lima Barreto, Oswald de Andrade, até os textos contemporâneos de Marcelino Freire, Cristóvão Tezza, Rubem Fonseca, Luís Fernando Veríssimo. “A abordagem faz parte do processo de formação cultural do Brasil. O futebol foi tema de maravilhosas crônicas e poesias de Nelson Rodrigues, por exemplo. Drummond foi outro a se valer do tema”, diz Janilto Andrade, professor da Universidade Católica de Pernambuco.
Caso curioso é o do pernambucano João Cabral de Melo Neto, que não apenas escreveu, mas ele próprio foi jogador de futebol. “A temática é pertinente sobretudo quando leva em conta as relações com cultura, sociedade e construção da identidade do povo brasileiro. É importante que os livros se aprofundem, sem se limitar ao pitoresco, à literatura lúdica”, completa Andrade.
Neste ano, tanto a Bienal do Livro quanto a Fliporto, vão se dedicar à interseção entre literatura e o esporte. Durante a festa literária também será lançado pela editora Carpe Diem o Almanaque da copa, escrito por Antônio Napoleão, jornalista responsável pelo arquivo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
“A temática da Fliporto 2013 não é somente vinculação do evento aos esportes, à Copa ou às Olimpíadas, mas ao fenômeno da ‘gameficação’, à transformação de livros em jogos e vice-versa. Vamos fazer o diálogo entre esportes, tecnologia e leitura”, comenta o curador Antônio Campos.
Fonte: Diário de Pernambuco