Os 43 autores presentes no evento recebem diárias de 50 euros, além de todas as despesas pagas
Eventos lotados, longas filas para autógrafos e exposição maciça de seus livros na mídia francesa. Os ecritores brasileiros convidados para a Feira do Livro de Paris não precisam de mais nada, certo?
Errado, segundo Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, e um dos principais nomes da delegação no evento, que começou na sexta e vai até segunda, tendo o Brasil como país homenageado.
Lins acredita que ele e os 42 conterrâneos presentes na feira não estão recebendo uma compensação financeira adequada. O autor reclama da falta de um cachê – ou, pelo menos, de uma ajuda de custo maior. Além de todas as despesas pagas (passagem aérea, hotel e transporte do aeroporto), a delegação oferece 50 euros diários para cada escritor.
– Eu vivo de palestras, e não posso trabalhar de graça – diz Lins, que participa logo mais, às 19h, de uma mesa-redonda com Ana Maria Machado, Bernardo Carvalho e Nelida Piñon, dentro das atividades do Salão do Livro. – Não vim aqui para passear, e sim para trabalhar. Esse dinheiro (a diária) não dá para viver aqui e só avisaram o valor no dia 10 de março. Na verdade, estou pagando para estar aqui. As pessoas te convidam para Paris, e acham que isso para a gente é muita coisa. E não é. A gente está aqui só para trabalhar. Estar aqui e estar em Votuperanga é a mesma coisa.
Lins não é o único autor a se queixar. Outros convidados da delegação, como Luiz Ruffato, também reclamaram de forma veemente. Alguns compararam a ajuda de custo recebida em Paris com a recebida na Feira de Frankfurt, em torno de mil euros.
O evento alemão, assim como a Festa Literária de Paraty e os principais eventos literários do mundo, não paga cachê. Na França, participações pagas são raras – até mesmo para medalhões. A polêmica em torno dos cachês em grandes feiras é antiga e já aconteceu em outros eventos. Na Feira do Livro de Bento Gonçalves, em 2012, Fabrício Carpinejar já havia se revoltado com o cachê pago ao autor e cantor Gabriel Pensador, que recebeu 170 mil reais por sua participação, enquanto os outros autores receberam em torno de mil reais.
As declarações causaram mal-estar entre alguns membros da organização brasileira. O diretor executivo da Câmara Brasileira do Livro, Mansur Bassit, diz que os autores já sabiam que não haveria cachê. Segundo ele, a ajuda de custos não pode ser comparada com a da Feira de Frankfurt.
– Em Frankfurt, o autor recebia uma ajuda maior, mas tinha que pagar todas as despesas, incluindo o transporte ao hotel e a hospedagem. Eles sabiam que seria assim. Se não queriam vir, era melhor ter deixado o lugar para outra pessoa – diz Bassit.
Segundo Ronaldo Correia de Brito, a ajuda de custos é “incomparavelmente menor” do que as da Feira de Bogotá e de Frankfurt.
– A questão da diária é apenas um detalhe, mas um detalhe importante. Será melhor quando os autores receberem um valor maior, afinal eles não estão apenas aqui para o bem da própria literatura, mas também para representar a literatura brasileira. Eles estão criando um outro olhar sobre o Brasil. Mesmo com tudo pago, é difícil ficar um dia em Paris com 50 euros – afirma.
Correia de Brito, porém, ressalta a importância da presença da literatura brasileira na França.
– Não é fácil colocar a nossa literatura no mercado do mundo, mas está sendo um grande sucesso. Está sendo um investimento pequeno para um resultado muito grande.
Lins, porém, discorda sobre um “retorno de mídia” para os autores presentes em Paris.
– Eu não vivo de mídia, a mídia não me dá dinheiro. As vendas estão boas, mas com a gente aqui ou sem a gente aqui nós venderíamos a mesma coisa.
Outros escritores da delegação preferiram não dar muita importância para a questão. Ana Paula Maia reconhece que o valor é pequeno, mas lembra que está se “virando muito bem” com o que recebeu.
– O mais importante é estar aqui. Tem gente que paga para vir, não tenho por que reclamar. Mas, enfim, eu sou uma pessoa mais on the road, então não sou um bom parâmetro – diz.
Diferentente do que foi publicado numa versão anterior desse texto, a escritora Carola Saavedra não afirmou que não se lembrava do valor de sua diária em Paris. Ela se referia aos valores de sua participação na Feira de Frankfurt de 2013.
Fonte: O Globo | Bolívar Torres