Escritos entre 1925 e 1948, textos do acervo mostram o carinho do escritor pela família e trazem relatos políticos
Um empresário que mora na cidade de Lavras (MG) guarda um grande acervo de cartas de Carlos Drummond de Andrade. Eduardo Cicarelli conta que adquiriu o material, que contém fotos e correspondências escritas entre 1925 e 1948, de um parente de Drummond, há mais de 20 anos, durante uma visita ao Rio de Janeiro.
No acervo, há textos que evidenciam o carinho pelos pais e relatos políticos. Cicarelli afirma que, posteriormente, soube que a senhora que lhe vendeu as cartas seria a cunhada de Drummond, Ita, que herdou-as de Julieta Augusta, a mãe do poeta.
Ele diz não se lembrar de quanto pagou: “Na época, a moeda era o cruzeiro, e acho que dava para comprar um carro zero”. Uma avaliação feita este ano estipulou o valor em pelo menos R$ 21 mil.
O acervo contém mais de 200 correspondências, muitas destinadas à mãe. Muitos papéis têm o timbre do Ministério da Educação e Saúde, onde trabalhou por anos. Todos estão amarelados, e o cheiro de naftalina é constante, mas continuam legíveis. Neles, o poeta mineiro deixa claro o amor à mãe: “Não tenho lhe escrito ultimamente… Mas nem por isso eu esqueço da senhora e lhe consagro sempre um pensamento carinhoso”.
Drummond também fala de política, mas não é possível identificar se ele era ou não “Getulista”, o que acabaria com um debate que persiste até hoje entre os historiadores. Em uma das correspondências, cita um acidente de carro envolvendo o ex-presidente. “Tivemos um instante de grande preocupação com o desastre sofrido pelo presidente, mas, logo depois, felizmente, verificamos que o estado dele era bom”. Em outra, reclama que sua Itabira (MG) estivesse passando a se chamar “Getúlio Vargas” – medida que durou pouco tempo. “Um nome de duzentos anos, que guardamos com orgulho de pobres, mas que era para nós como um nome de pessoa querida, é bruscamente jogado fora, para uma homenagem desnecessária”. Depois, o poeta assinaria um manifesto contra a falta de liberdade no governo Vargas.
Cicarelli afirmou que pretende vender o material para uma biblioteca, universidade ou instituição que tivesse como estudá-lo e atender ao público.
Fonte: Rene Moreira – Especial para O Estado de S. Paulo