As manifestações populares ocorridas no Brasil no primeiro semestre deste ano trouxeram à tona de forma explícita, a insatisfação popular com a gestão pública. Inicialmente, o foco da reinvindicação era a redução das tarifas do transporte coletivo, as manifestações ampliaram-se pelo país, ganhando número maior de pessoas e de reivindicações, ainda hoje, embora com menos veemência, algumas manifestações ainda ocorrem no Brasil. Inúmeras, talvez incontáveis, foram as publicações periódicas sobre o assunto isso sem falar sobre a gama de livros que também já foram publicados abordando o tema. Nesse momento, talvez, a posição adotada por muitas bibliotecas foi disponibilizar material sobre o assunto para seus usuários, o que é plenamente louvável.
Dentro do contexto político-social a biblioteca pode ir mais além da disponibilização da informação. Se analisarmos a trajetória da biblioteconomia na história nota-se que esta ciência é muito mais que guardiã da informação, ela é formadora de opinião. Atualmente, a Biblioteconomia está inserida nas áreas de conhecimento das Humanidades e das Ciências Sociais Aplicadas, sendo oriunda das áreas de sociologia e educação, a Biblioteconomia possui uma herança social e política muito grande. Henri La Fontaine e Paul Otlet, preceptores da documentação, eram ativistas e pacifistas ambos acreditavam que a disseminação e o acesso ao conhecimento seriam capazes de amenizar as diferenças de classes, não é a toa que La Fontaine no ano de 1913 recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
O nascimento e o desenvolvimento da biblioteconomia não estão ligados somente à necessidade de suporte à informação, como acredita a maioria dos profissionais da área, mas também no empenho e desenvolvimento das necessidades sociais da sociedade. O autor Luiz Milanesi em sua obra O que é biblioteca? afirma que ”a história da biblioteca é a história do registro da informação (…) a história do homem como ser social e político, ser político no que ser refere a sua maneira hábil de agir e tratar”.
Analisando a postura das bibliotecas na história brasileira observa-se que durante o período colonial elas eram divididas entre religiosas e particulares, ambas eram de acesso restrito à elite religiosa que dominava a educação impondo sua ideologia, os jovens brasileiros que iam estudar na Europa sofriam censura de qualquer material que viesse a confrontar a Coroa Portuguesa. A Biblioteca Nacional, primeiramente nomeada de Biblioteca Real desenvolveu sua autonomia somente nos aspectos organizacionais, sendo usada como espelho político-ideológico. Outra demonstração recente sobre a atuação política da biblioteca foi o manifesto da IFLA (Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias) em 2005, a IFLA afirma que a biblioteca é uma instituição fundamental no exercício da democracia e que deve auxiliar na defesa dos direitos civis, promoção da cidadania e no combate à corrupção.
Desde os primeiros contextos de agitação social e política a postura dos profissionais que atuavam em bibliotecas era de distanciamento, alienação e apatia. As bibliotecas vendiam uma imagem elitista, voltada apenas aos nobres e letrados essa postura afastava as camadas populares. A imagem da Biblioteca nos dias de hoje, já não é a mesma apresentada pelos livros de história, as bibliotecas se popularizaram e os profissionais que atuam nela devem se conscientizar que são os condutores no desenvolvimento de habilidades essenciais ao ser humano para viver em uma sociedade que sofre mudanças tais como: pensar criticamente, ler, ouvir e ver. O ser humano constrói seu caráter a partir do uso que faz do conhecimento adquirido, esse conhecimento em parte pode ser obtido através da leitura.
A biblioteca pode atuar como instrumento de mudança social, o desenvolvimento plural de coleções e a defesa do acesso livre a informação são atividades políticas desempenhadas pelo profissional da informação.
A informação tratada, organizada e disseminada torna-se ferramenta política na sociedade, a biblioteca é uma instituição compensatória de coleta de informações sobre causas e efeitos de ações políticas e movimentos sociais.
Fonte: Vértice Books | Cátia Cristina Souza