Mineiriana foi mais uma das afetadas pela alta dos aluguéis após as obras na região
Maior livraria de rua em Belo Horizonte, com 550 metros quadrados e um leque de títulos comparado às empresas do ramo na Europa e Estados Unidos, a Mineiriana está liquidando todo o acervo com até 70% de desconto. Curiosos com as megapromoções, clientes foram surpreendidos ao serem avisados por funcionários que o ponto de venda terá suas atividades encerradas nas próximas semanas. “Acho que até o fim do mês, no máximo. Acredito que quase metade do acervo foi vendida. Os escritores russos, meus preferidos, já foram todos: Dostoiévski, Tolstói, Gogol. É um espaço grande. O aluguel deve ser bem caro”, lamentou José Márcio Duarte, um professor de história e geografia que frequenta o local com assiduidade.
Os proprietários da Mineiriana não retornaram os pedidos de entrevistas. Mas, segundo fontes ouvidas pelo Estado de Minas, a disparada no preço do aluguel afetou o faturamento da empresa, fundada em 2009. Apesar de ter aberto as portas há apenas seis anos, a livraria entrou para a história cultural da capital mineira como um dos principais pontos de encontro dos amantes da literatura. O espaço foi palco de diversos lançamentos de livros, palestras, exposições, pocket shows e outros concorridos eventos.
O site da empresa também sugere uma despedida: “Promoção imperdível – todo o nosso acervo com até 50% off. Promoção válida durante todo o mês de março de 2015”. Quem chega no interior da livraria, contudo, encontra descontos de até 70%. Outras empresas do mesmo ramo na região fecharam as portas em razão, sobretudo, do aumento dos aluguéis. Os preços dispararam ao longo de 2013, depois da reforma paisagística da área, financiada pela prefeitura.
“Em dois anos, o valor do meu contrato de aluguel subiu 170%. Um amigo meu, dono de um sebo que funcionava na região, fechou as portas depois que o proprietário do imóvel que ele alugava reajustou o preço em mais de 200%”, lamentou Welbert Belfort, dono da livraria Scriptum, fundada em 1997. Outro empreendimento que também vendia diferentes títulos e que não suportou a queda nas vendas, em razão da obra, e a disparada do aluguel foi o Café Travessa, na Rua Pernambuco, que fechou as portas em 2012.
Em fuga
Em direção oposta à escalada dos aluguéis, as vendas nas livrarias não decolaram ao longo dos últimos anos, a exemplo do que ocorre com o varejo como um todo. Na Scriptum, por exemplo, os negócios caíram 40% nos últimos três anos, segundo calcula o proprietário. Parte desse recuo se deve, novamente, à obra de paisagismo. Se por um lado a Savassi ficou mais bonita com as mudanças na Praça Diego de Vasconcellos; por outro, afugentou parte da clientela. Isso porque muitas vagas para veículos em via pública foram extintas. Resultado: parte dos consumidores migrou para bairros ou para os shoppings.
A Scriptum adotou algumas estratégias para frear as perdas, como negociar títulos pela internet. A empresa, que também atua como editora, oferece seu espaço para atividades culturais. Ao todo, a livraria e editora publicou mais de 90 títulos de diferentes gêneros.
O empresário Arnaldo Oliveira, dono da livraria e editora Del Rey, também reclama dos preços dos aluguéis em BH. “Eu alugava um imóvel de 360 metros quadrados (na Av. do Contorno com Getúlio Vargas) por R$ 8 mil. Quando o contrato venceu, ofereci R$ 11 mil para renová-lo, mas o dono pediu R$ 25 mil. Entreguei a loja.”. A Del Rey, que hoje tem duas lojas físicas em BH e uma na internet, chegou a ter cinco pontos na capital.
“Tínhamos 102 colaboradores. Hoje, são 20”, recorda Arnaldo, um ex-engraxate que montou a maior editora jurídica de Minas Gerais. Sua história merece ser contada. Convidado por um amigo para morar numa república bancada por estudantes de direito, ele percebeu que muitos alunos precisavam de publicações para consultas rápidas. Ele próprio montou, com autorização de autores, muitas apostilas. Daí, partiu para a venda de livros de porta em porta. Até fundar, em 1979, a Del Rey. Naquela época, quando a Grande BH contava com quatro faculdades de direito, a Del Rey vendia mais exemplares do que hoje, quando há mais de 30 instituições na região metropolitana. Um dos motivos da queda nas vendas, destaca, é o uso de xerox e as obras postadas ilegalmente na internet.
Para melhorar as vendas, Nadinho, como é conhecido no ramo de livraria, transformou sua loja do Centro, em ponto de encontro de profissionais do meio jurídico. Ele também se rendeu à diversificação de títulos.
Fonte: Estado de Minas