Em 2013, os e-books corresponderam a apenas 3% do total de livros vendidos no Brasil. Os otimistas dirão que isso representa um aumento de 2% sobre as vendas de 2012, mas outros contestarão que esse mercado ainda cresce em um ritmo muito lento diante de todo o alarde e do lobby criado em torno dos livros digitais nos últimos anos. Tendo a ficar do lado destes últimos.
O que falta, então, para os livros digitais decolarem no Brasil?
A Gato Sabido foi a pioneira dos e-books no Brasil em 2009. Ser o pioneiro não necessariamente representa sucesso garantido, e o próprio e-reader, bem como seu conteúdo, apresentou um resultado de vendas bastante limitado. Atualmente, os fundadores da Gato Sabido são os responsáveis pela operação da Xeriph – comprada pela gigante Abril –, uma distribuidora de conteúdos digitais que possui parceria com a maioria dos players do mercado digital de livros.
A Saraiva desenvolveu tecnologia própria, preparou seu site para a venda dos e-books, mas nunca emplacou. Nesse caso, acredito que a falta de um e-reader próprio tenha contribuído para que a maior livraria do Brasil não conquistasse um share considerável no segmento.
A Cultura apostou forte na parceria com a canadense Kobo. No início da operação, a rede disponibilizou espaços nobres em suas lojas físicas e em seu site – um desavisado que acessasse o livrariacultura.com.br poderia achar que estava no lugar errado, pois a Kobo ocupava os principais destaques da home.
O fato é que muita gente comprou o Kobo, e a participação da Cultura, aliada a uma forte exposição do produto, foi um fator decisivo para o relativo sucesso dessa empreitada. A motivação dos clientes para a compra deveu-se a várias questões: curiosidade, conveniência, status ou intenção de presentear alguém. Tudo levava a crer que a Cultura e seu Kobo ocupariam uma parcela importante desse mercado, tornando-se fundamentais para disseminar os livros digitais no Brasil. Hoje o reader do Kobo é o que mais se aproxima do Kindle, ainda que a limitação da marca a uma rede de livrarias atrase um crescimento mais vigoroso.
A Amazon finalmente chegou ao Brasil firmando improváveis parcerias com o Pontofrio.com e com a Livraria da Vila, abrindo também quiosques em shoppings. O que vimos até agora são esforços, investimentos e um resultado não mais do que discreto. Esse ano é muito importante para a gigante americana. Para concretizar suas pretensões no Brasil, é necessário ganhar mais participação e firmar parcerias mais eficazes e agressivas. Entretanto, não está nada fácil para a Amazon encontrar players dispostos a “alimentar um leão” que, no futuro, pode simplesmente devorar o braço de quem lhe deu de comer no passado. O início da gigante no atendimento de livros físicos está programado para o primeiro semestre de 2014 e esse deve ser um fator decisivo para agregar uma gama de clientes ao site que ainda trata o e-book como uma exceção, e não a regra.
A Apple e o Google possuem uma vantagem significativa nessa briga: ambos têm um grande público, seja de proprietários de seus devices ou de usuários de seus outros serviços, sedento por consumir conteúdos em seus sistemas operacionais IOS e Android, respectivamente. Enquanto importantes varejistas e livrarias como a Fnac e Travessa até o momento não deram o primeiro passo; para esses a solução mais lógica que vejo seria firmarem parcerias com operadores que já desenvolveram esta tecnologia.
Essa será uma briga para poucos players, e importantes nomes da venda de livros físicos atuarão apenas como coadjuvantes, fechando parcerias que lhe assegurem um percentual mínimo sobre as vendas. O livro digital veio para ficar e para conviver com o físico. Ainda temos bons anos pela frente antes que o digital atinja dois dígitos na participação sobre a venda total de livros e, para isso, as editoras precisam entender os reais potenciais da digitalização, que vão muito além da simples transposição do livro físico, estendendo-se a um enorme espectro de possibilidades. Até lá saberemos quem serão os protagonistas dessa saga e quem ficará de fora da festa.
Uma coisa é certa: o livro de papel é eterno. Pode perder espaço, mas não será extinto. No caso do Brasil, é preciso lembrar que uma parcela importante de pessoas, principalmente da classe C, cada vez mais adquire o hábito da leitura. Quem não voltar seus olhos para esses novos consumidores pode perder oportunidades valiosas de ampliar seus negócios no mercado livreiro. É importante que nos adaptemos às novas tecnologias digitais, sem perder o foco, porém, nas oportunidades que os novos leitores trarão ao mercado, de livros físicos ou não, nos próximos anos.
Fonte: O Nariz | Orlando Prado