Após três anos sem aparecer publicamente e depois de se recuperar de uma operação no coração, o escritor Paulo Coelho lançou em Madri seu mais recente livro, O Manuscrito Encontrado em Accra, em um evento em que fez uma intensa defesa da internet e da redes sociais.
“Para mim, escrever significa o contato humano – explicou. – Nunca compreendi isso do escritor isolado em sua torre de marfim. A internet é uma revolução, e as redes sociais, Twitter, Facebook, meu blog e os posts, mudaram tudo. Criou outro Renascimento”, analisou o autor de O Alquimista, diante de uma sala repleta de jornalistas.
Coelho, que tem 17 milhões de seguidores nas redes sociais e vendeu cerca de 150 milhões de livros em 168 países e em 73 idiomas, o primeiro que fez, antes de iniciar a entrevista coletiva, foi tuitar para comunicar que estava apresentando seu livro.
“A tendência do escritor hoje em dia é basicamente escrever nas plataformas para compartilhar seu trabalho. O sonho do escritor é ser lido, não fazer um jardim para seu livro, mas captar outras sensações humanas, compartilhar e que haja uma compressão mútua”, argumentou, que foi bastante prolixo, levando em conta que não tem dado entrevistas nem feito eventos de lançamento para seus livros.
Mas o autor de 64 anos, com uma intensa biografia , “hippie”, rebelde, espiritualizado, viajante do mundo e vítima de torturas durante a ditadura, entre outras facetas, que encontrou a paz em 1986 após percorrer o Caminho de Santiago, acredita que neste momento de revolução tecnológica exista, por outro lado, uma crise de valores.
Essas foram as questões que o autor abordou em O Manuscrito Encontrado em Accra, que será lançado pela Editora Sextante no Brasil e na América Latina amanhã, exceto na Colômbia, onde sairá em 6 dezembro, assim como nos Estados Unidos.
Na obra, Coelho narra a história do manuscrito de Accra, escrito em árabe, hebraico e latim, que conta o relato sobre os conselhos que um sábio grego deu à população de Jerusalém na véspera da invasão dos cruzados.
Assim, em uma clara homenagem à obra O Profeta, de Khalil Gibran, como afirmou hoje o próprio autor, O Manuscrito Encontrado em Accra é uma parábola sobre a falta de valores na sociedade atual. “Valores que são os mesmos hoje que há mil ou 5 mil anos”, um livro sobre a eterna pergunta: “Quem sou eu?”.
Um livro sem resposta, mas com muitas perguntas, “porque eu não tenho respostas, só perguntas”, acrescenta, vestido de preto como de costume.
A obra é escrita de forma metafórica dirigida a todos aqueles que se deixam surpreender, que têm curiosidade e que não esquecem a criança que todos carregam em si, disse Coelho. “A criança é o que fala com a voz mais pura, que enfrenta os desafios do mundo sem preconceitos”, acrescentou.
O autor sempre comentou que não gosta de ser chamado de “guru” ou “visionário”, mas o certo é que a maioria dos livros de Coelho, de forma explícita ou implícita, convocam à espiritualidade e, hoje, em sua entrevista coletiva, também fez um apelo a recuperar o básico, o essencial.
Quando perguntaram ao escritor sobre a felicidade, este contestou que não acreditava nela. “É uma invenção do século XVIII. Agora temos o consumo, que pode fazer muita gente parecer feliz”, disse. “Não me interessa a felicidade, prefiro a alegria. A felicidade é para o tempo e o espaço, nada mais”.
Contente, o autor de O Diário de um Mago destacou que adora os desafios e que este livro era um. “Estou muito contente com o livro e tenho tanta esperança como com o primeiro”, concluiu.
Fonte: Estadão | EFE