Luiz de Bessa faz 60 anos em 2014 com desafios e proposta de revitalização

Empréstimo. O setor exige a carteirinha do associado, que tem 14 dias para ler o livro, podendo prorrogar o prazo pelo mesmo período (Foto: Reprodução)
O exercício de se frequentar uma biblioteca começa, muitas vezes, pelo incentivo da escola em atividades extra-classe, como a excursão que alunos do Colégio Militar com idades entre 10 a 13 anos fizeram na última quarta-feira na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na praça da Liberdade. Para a maioria, a experiência era inédita. “Eu achei a biblioteca muito grande, quero fazer minha carteirinha na próxima vez que vier porque adoro os livros da saga Harry Potter. Já li três”, conta Eduardo Mota, 11. Míriam Nithack, 10, se encantou pela possibilidade de ler gibis. “Gosto de histórias com heróis’, diz.
No mesmo prédio, no setor de Periódicos, o pedreiro e pintor Sadi Dias de Souza, 55, colocava a leitura dos jornais em dia. “Eu comecei frequentando a biblioteca do Sesc quando tinha 14 anos. Desde então, sempre que posso eu passo na Luiz de Bessa para ler e me informar mais sobre a realidade”.
O anexo Francisco Iglésias, que passou a integrar o conjunto a partir de 2000 e concentra o setor de empréstimos, evidencia perfis dominantes de jovens em idade escolar e adultos próximos à aposentadoria. Mariane Botelho, 19, quer cursar música. Associada há um ano, ela começou por indicações de professores. “Mas acabei encontrando muita coisa diferente. Desde então, venho aqui três vezes por mês”, revela com um exemplar das “Obras Completas”, de William Shakespeare, nas mãos.
São diversas as potencialidades de espaços como uma biblioteca. Quem passa um grande intervalo sem frequentar a Luiz de Bessa retorna ao local com uma mistura de sensações, como nostalgia, curiosidade e até uma dose de culpa por ser menos assíduo àquele ambiente do que se gostaria.
Em bibliotecas públicas de países europeus, a movimentação é intensa e há menos lacunas entre frequentadores. “Em Berlim nunca vi tanta gente concentrada, lendo, estudando, trabalhando, usando o espaço mesmo”, observa a jornalista Thais Caramico, que mora em Londres. Ela acrescenta que a noção de pertencimento é tão grande que a própria comunidade organiza movimentos em bairros em prol das atividades quando ameaçadas.
De acordo com a pesquisadora e doutoranda da Escola de Ciência da Informação da UFMG Fabíola Farias, é preciso refletir sobre a função de uma biblioteca, seja ela pública ou comunitária. “O que falta é um conceito, e os investimentos precisam ser sustentados pela reflexão. Só assim é possível aprimorar as atividades e serviços”, diz.
Ao problematizar sobre o tipo de instituição que queremos, abrangendo todos os públicos, Fabíola acredita que a biblioteca precisa mostrar para a população o que ela não sabe que existe. “Tudo o que extrapole o cotidiano, o pragmatismo, o senso comum. Ela é a maior possibilidade de leitura para quem não está mais na escola, mas é importante lembrar que, para a leitura ser um prazer, há um caminho a ser trilhado”, aponta.
Nesse sentido, todo trabalho que a Luiz de Bessa faz no sentido de levar o público a realizar pesquisas, tomar livros emprestados ou simplesmente para por ali para ler os jornais do dia são louváveis do ponto de vista educativo. Como complemento, a instituição promove ações que levam o conhecimento a presídios e bairros da periferia.
Porém, às vésperas de seus 60 anos de vida, a Luiz de Bessa admite ter desafios constantes. No edifício-sede não há wi-fi, o que inviabiliza que pesquisadores troquem e-mails, por exemplo, com orientadores enquanto estão debruçados em livros. A necessidade de um projeto expositivo que tornem as mostras mais interessantes se evidencia, ainda mais no contexto do Circuito Cultural do qual faz parte hoje.
“Nós já temos muitos avanços no que diz respeito ao acervo. A Biblioteca Pública Luiz de Bessa é reconhecida nacionalmente, citada como modelo pelo Sistema Nacional de Bibliotecas. Temos focado em ações sociais, mas pretendemos seguir todo tipo de avanço”, explica Catiara Afonso, superintendente de Bibliotecas Públicas e Suplemento Literário da Secretaria de Estado de Cultura.
No fim deste mês, segundo ela, será reativada a sala de internet que ficou sete meses “fora do ar” em função de ajustes técnicos. “Serão 12 computadores com internet, sem taxa para o usuário, com uma boa velocidade. Ofereceremos também wi-fi gratuito no edifício-sede e no anexo até o fim de 2014”, revela.
Estruturalmente, tanto o prédio da praça da Liberdade quanto o anexo serão repaginados. O primeiro, projetado por Oscar Niemeyer, desde novembro do ano passado passa por um reforma no último andar, danificado após um incêndio em 2012. O seguro no valor de R$ 720 mil cobre as despesas. Os demais ajustes para comemorar o aniversário com estilo, juntamente como uma programação especial prevista para maio, terão o investimento de R$ 1,5 milhão por parte do governo de Minas, de acordo com a Secretaria de Estado da Cultura.
“Pretendemos ampliar nossas parcerias com a Associação de Amigos da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, que existe há 20 anos e conta com mil associados. É nossa intenção ter uma lojinha da instituição. Também devemos melhorar os espaços expositivos com editais de ocupação das galerias e bolsas para exposição de obras”, finaliza Catiara.
Fonte: O Tempo | Ludmila Azevedo