As bibliotecas impressas e digitais vão coexistir, “pelo menos”, durante os próximos 20 anos, disse nesta quinta-feira (20) à Agência Brasil a diretora do Sistema de Bibliotecas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marieta de Moraes Ferreira. Ela participou do primeiro dia de debates da conferência internacional Os Desafios das Bibliotecas Digitais: Conhecimento, Tecnologia e o Crescimento da Informação Virtual nas Universidades, promovido pela instituição, em sua sede em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. O evento reúne profissionais brasileiros e de instituições internacionais de ensino.
“O mundo dos livros está mudando muito e sempre surge aquela ideia de se criar uma biblioteca digital e diminuir o número de livros físicos”, comentou Marieta. Essa proposição, entretanto, cria uma série de debates, incertezas e desafios para o futuro. Segundo ela, isso ocorre porque uma coisa são os periódicos digitais, que são bem aceitos de modo geral e para os quais que se verifica um aumento cada vez maior de consultas por parte de pesquisadores, professores e alunos. A questão muda, entretanto, quando se trata dos livros impressos.
Participantes de encontro internacional discutem a convivência dos livros impressos com os chamados e-booksRenato Araújo/Agência Brasil
Alguns palestrantes indagaram se é possível haver uma biblioteca só digital ou essencialmente digital. “A conclusão final é a inviabilidade disso neste momento, porque os leitores ainda não estão sintonizados com isso, mesmo os jovens. A preferência pelo livro físico ainda é dominante”, explicou.
A diretora da FGV disse, ainda, que é preciso distinguir entre livros de ficção, como um romance, por exemplo, e um livro acadêmico, que é um livro de estudo que demanda mais concentração da parte do leitor. “Acho que os livros de ficção, que levam para uma atividade mais de lazer, têm mais facilidade de serem incorporados aos hábitos das pessoas na forma de livros digitais, os chamados e-books, do que os livros acadêmicos”.
Outro problema se refere à compra de livros digitais, especialmente para as bibliotecas universitárias, indicou Marieta Ferreira, porque o modelo de negócio é diferente do adotado tradicionalmente. “Quando você compra livros digitais para as bibliotecas, não compra das editoras. Compra das agregadoras, que são como distribuidoras de livros digitais”. O que ocorre, mencionou, é que essas empresas vendem pacotes fechados de livros ou de base de dados. “Às vezes, você compra 100 títulos e lhe interessam 20. Muitas vezes, não há opção de escolha”.
Além disso, a disponibilidade de grande parte dos livros vendidos pelas agregadoras não é perpétua, ou seja, a compra é feita por um prazo determinado, ao fim do qual os livros digitais deixam de ser acessáveis. “Se, no ano que vem, a biblioteca não tiver dinheiro, acabou o livro”. Devido a essas questões, a tendência, sinalizada pelos especialistas de vários países presentes à conferência, é que as bibliotecas digitais e impressas ainda coexistirão durante bastante tempo.
O Sistema de Bibliotecas da FGV reúne as bibliotecas da instituição no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Em todo o Brasil, a FGV tem mais de 140 mil alunos. O sistema inclui 10.733 e-books comprados ou adquiridos por assinatura; 3.756 livros impressos que estão em domínio público e podem ser digitalizados; 280 mil e-books disponibilizados a partir do Portal Capes; e 149.471 livros impressos, dos quais 85.121 pertencem ao acervo da FGV Rio.
Fonte: CBN