
O Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-6) dá continuidade à série focada em destacar o trabalho de Bibliotecários que estão fazendo a diferença. Miriam da Silva (CRB-6/2945) é a perfilada da vez.
Uma escolha por acaso que se tornou sonho realizado
Em uma de suas músicas mais bem-sucedidas, Vinícius de Moraes canta “Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão”. Miriam descobriria a verdade desse trecho quando estava a um passo de embarcar no curso de Direito. Essa era a profissão que havia escolhido, mas tudo mudou quando Miriam folheou páginas de uma extinta revista de profissões da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Parei na entrevista da Bibliotecária Vilma Carvalho de Souza (CRB-6/1390), então chefe da Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Ela explicava todas as possibilidades da profissão, fiquei surpresa porque na época pensava que a Biblioteconomia se resumia a colocar livros na estante”, conta risonha.
Apesar de aprovada para cursar Direito em uma instituição de ensino particular, Miriam escolheu explorar todas as possibilidades da Biblioteconomia na UFMG. A trajetória da estudante na Escola de Ciência da Informação (ECI) começou em 2004 e foi recheada de experiências transformadoras. “Nos quatro anos da graduação, fiz estágio no ’Carro Biblioteca’, projeto de extensão do curso. A Marília de Paiva (CRB-6/2262), ex-presidenta do CRB-6, foi minha chefe nesse período. Aprendi muito. Eu dava aulas de inclusão digital dentro do ônibus e ajudava no empréstimo dos livros”.
Depois da passagem pelo “Carro Biblioteca”, Miriam estagiou na Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG e, por fim, passou pelo Parque Lagoa do Nado. Lá, descobriu a sua vocação como Bibliotecária: trabalhar em consonância com livros, arte e cultura. “No Parque Lagoa do Nado, eu encontrei meu estilo como Bibliotecária. Além de fazer a catalogação na biblioteca, no domingo ajudava nas apresentações musicais e mais”, comenta.
Em 2007, Miriam formou-se, mas se viu perdida em meio a um mercado de trabalho que não dava oportunidades aos recém-formados. Por razões pessoais, ela se mudou para Cataguases, cidade na Zona da Mata de Minas Gerais, onde a cultura vibrava com projetos inovadores, como as ações promovidas pelo Instituto Francisca de Souza Peixoto (IFSP). Para a alegria de Miriam, a organização estava procurando por um Bibliotecário e ela foi contratada.
“No tempo que estive no Chica (apelido carinhoso do instituto), desenvolvi muita coisa legal. Além da biblioteca, a organização tinha o telecentro, um espaço no qual aconteciam diversas apresentações, inclusive, desenvolvi algumas atrações com alunos em situação de vulnerabilidade. O Chica tinha uma parceria com escolas públicas da região e os estudantes visitavam o Chica semanalmente para ler, assistir a filmes e mais”.
Nessas visitas, Miriam desenvolveu o projeto “Curto curtas na biblioteca”, que consistia na transmissão de um filme sobre questões sociais seguida de debates acerca de temas como racismo, inclusão dos idosos, entre outros. Um projeto marcante para a Bibliotecária foram as atividades desenvolvidas no Dia da Consciência Negra, 21/11; principalmente, quando promoveu uma mostra sobre autores negros na biblioteca e recebeu alunos de escolas públicas e particulares para conversarem acerca do tema.
“Fiquei muito impactada ao perceber as diferenças de se falar sobre racismo com estudantes de escolas públicas e particulares. Parte dos alunos das instituições de ensino privadas não via discriminação racial no Brasil porque não parava para pensar sobre isso. Para gerar reflexão, eu ia dando exemplos como ‘Quando você anda pela cidade e olha para as lojas, qual é a cor dos manequins nas vitrines? No restaurante, quem está sentando à mesa e quem está servindo? ’”.
Por motivos financeiros, o Chica fechou a biblioteca e o telecentro e se mudou para um espaço menor. Assim, Miriam se viu sem emprego, mas logo foi contratada pelo Centro Universitário Unifaminas, campus Muriaé (MG). “Nessa época, a instituição de ensino estava começando a implantar o curso de Medicina e, como se sabe, se a biblioteca não estiver nos eixos, o Ministério da Educação (MEC) pode rejeitar a adição da graduação. Por isso, essa época foi a que mais trabalhei na vida”.
Com o passar do tempo, Miriam decidiu prestar concurso público para a Biblioteca Pública Municipal de Muriaé; passou e assumiu o cargo em 2013. “O trabalho desenvolvido aqui vai muito além dos livros, participamos de festas em outros distritos, promovemos peças de teatro, contações de histórias e apresentamos a biblioteca para estudantes”, explica.
A escritora Ângela Lago, à direita, segurando releitura de seu livro “Muito Capeta” feita por Miriam, à esquerda, para o projeto “Escrevendo com o escritor”, da professora Andrea Toledo, do Chica / Foto: Arquivo Pessoal
Antes da pandemia do novo coronavírus, tudo isso acontecia. Com a implantação das medidas sanitárias necessárias, Miriam ficou afastada da biblioteca por mais de um ano por ser parte do grupo de risco. Na terceira semana de julho, ela voltou ao espaço, animada para retomar os projetos culturais, já que a cidade está entrando na onda verde do nível de contaminação do vírus, de acordo com o Programa Minas Consciente.
Quando entrou na biblioteca, Miriam conta que o espaço não tinha sistema para catalogação de livros, empréstimos, entre outras funções. A partir de um pedido que fez, o software foi implantado e, atualmente, há 7 mil livros catalogados. Agora que está novamente no meio das histórias, Miriam rememora as palavras que definem seu trabalho: “persistência, resiliência e empatia”.
Confira as histórias que contamos até aqui
Bruno Moreira de Moraes (CRB-6/3270), da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), em Ipatinga (MG); Maria Clara Fonseca (CRB-6/942), da Biblioteca Pública Municipal Viriato Corrêa; Saulo Pereira (CRB-6/834ES), da Biblioteca Municipal de Marataízes e Beatriz Pirola (CRB-6/600ES), da Biblioteca Pública Municipal de São Mateus. São profissionais com narrativas diferentes e distintas trajetórias, mas unidos por algo em comum: o amor pela Biblioteconomia.
Leia cada uma delas.
“As várias faces de um Bibliotecário”: conheça a história de Maria Clara Fonseca
“As várias faces de um Bibliotecário”: leia a história de Saulo Pereira
“As várias faces de um Bibliotecário”: Beatriz Pirola narra sua história
Participe
Você é Bibliotecário e desenvolve projetos relevantes no seu trabalho? Envie para o CRB-6 o seu relato, fotos suas e das iniciativas. Sua história pode ser a próxima a ser contada aqui no Boletim. Para participar, é necessário que você esteja adimplente e regular com o Conselho.