Na noite de 14 de setembro, das 6 da tarde às 6 da manhã, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti e o Palácio das Artes serão palco do Noite Branca, evento inédito no Brasil, que proporcionará uma nova forma de fruição do espaço público. Realizado pelo Governo de Minas, por meio da Fundação Clóvis Salgado, esta edição oferece uma vasta programação cultural com exposições, instalações artísticas, mostras de vídeos, feira de publicações, apresentações cênicas e musicais. Serão 12 horas de imersão na arte contemporânea. A entrada, gratuita, será pelo Palácio das Artes.
CONCEITO
Noite Branca é uma expressão originada na Rússia e nos países nórdicos que refere-se ao fenômeno do crepúsculo permanente, em que a noite não chega a escurecer. Posteriormente, o termo é adotado em uma série de eventos em várias localidades do mundo para celebrar uma noite dedicada às artes. Em Belo Horizonte, o lugar escolhido para a realização do evento é o mais importante espaço público da cidade: o Parque Municipal, onde está inserido o Palácio das Artes, tradicional complexo cultural de Belo Horizonte. Durante uma noite inteira, do entardecer do dia 14 ao amanhecer do dia 15 de setembro de 2012, o Parque Municipal e o Palácio das Artes são abertos à visitação pública para oferecer uma vasta programação de instalações artísticas e arquitetônicas, mostra de vídeos, feira de publicações, apresentações musicais e cênicas. O que se propõe, em síntese, é a rara oportunidade da experiência noturna do parque, em toda sua extensão, mediada pelas realizações dos artistas convidados.
Criado como parte do plano urbanístico de Aarão Reis para nova capital, o Parque Municipal possui hoje aproximadamente 18 hectares, o equivalente a pouco menos de um terço de sua área original, de 62 hectares, em 1897. Em 1941, Oscar Niemeyer projeta ali o Teatro Municipal, sob o conceito de “um teatro dentro do parque”, que seria finalmente aberto como Palácio das Artes em 1970. Neste momento, o projeto havia sido adaptado e ampliado pelo arquiteto Hélio Ferreira Pinto, conectando-se mais diretamente com a avenida Afonso Pena, em detrimento de sua pretendida relação com o parque (o que veio a se agravar com a posterior construção das grades ao seu redor). Ainda em 1970, são realizadas, de forma integrada, duas exposições emblemáticas: Objeto e Participação, no Palácio das Artes, e Do Corpo à Terra, no Parque Municipal, ambas com curadoria de Frederico Morais. As exposições foram marcadas principalmente por obras-manifesto em resposta à situação política vigente, e envolveu artistas como Cildo Meireles, Artur Barrio, Lotus Lobo, Terezinha Soares, José Ronaldo Lima, Alfredo José Fontes, Luciano Gusmão e Dilton Araújo, entre vários outros.
Dado seu histórico no contexto urbano de Belo Horizonte, o parque assume uma relevância cada vez maior como área essencialmente coletiva, além de constituir um patrimônio ambiental considerável. O decréscimo de sua superfície verde ao longo dos anos reflete bem o processo de congestão urbana a que a cidade está submetida desde sua criação, onde os espaços vazios são constantemente substituídos pelas construções ou pela infraestrutura urbana, em especial a malha viária. Não por outro motivo, nos últimos dez anos a cidade de Belo Horizonte tem sido objeto de intervenções de artistas, arquitetos e designers, apontando para possibilidades de apropriação e restauro da condição urbana para uma democratização do uso do espaço urbano, contrariando seu fracionamento aparentemente inevitável em unidades privadas. Podem ser destacados: a ocupação de palafitas e lotes vagos para a ocupação coletiva (Louise Ganz e Carlos M. Teixeira com Amnésias Topográficas, 2003; Louise Ganz e Breno Silva com Lotes Vagos, 2005); o Bolsa Pambulha de 2008-2009, com a proposta de Sylvia Amélia de retraçar os limites originais do Parque Municipal;a transformação do asfalto em gramado com o projeto Picnic na Mostra de Design e no Cidade Eletronika, 2009-2011; a criação de arquibancadas em pontos cegos nos cruzamentos das praças Sete e da Savassi, provocando um olhar inusitado sobre a paisagem urbana (Paulo Pederneiras e Fernando Maculan para o FIT, 2010); e a proposta de intervenções em muros da cidade, transformando-os em suportes expositivos (Bruno Vilela e Brígida Campbel, emMuros: Territórios Compartilhados, 2011).
Assim como se estabelece uma linha de continuidade a estas ações urbanas, o reconhecimento da experiência de Objeto e Participação e Do Corpo à Terra é inevitável. Trata-se de referência importante ao projeto que aqui se apresenta que, 42 anos depois, deixa salientes alguns aspectos em comum: a adoção do Parque Municipal e do Palácio das Artes como local das intervenções e a formação de um grupo heterogêneo de artistas, de diferentes gerações e vertentes, para criar trabalhos específicos para o local. A Noite Branca no Parque vale-se ainda de uma pluralidade de meios de expressão e campos de atuação, amalgamados no ambiente orgânico do Parque Municipal e nele estabelecendo uma rede randômica de percursos e encontros.
Um trecho da grade que separa o Palácio das Artes do Parque Municipal é removido, num gesto que aponta para o início de uma reintegração física e simbólica: o teatro dentro do parque, como imaginado no projeto inicial do arquiteto Oscar Niemeyer; o parque dentro da cidade, como o esperamos reconhecer a partir desta noite branca.
>> Veja os artistas que participarão
Fonte: Fundação Clóvis Salgado