O Bibliotecário Gesner Francisco Xavier Júnior (CRB-6/3151), de 32 anos, traçou uma trajetória marcante desde sua formação básica até os desafios enfrentados e sucessos alcançados ao longo de sua carreira. Nascido em contexto de ensino público, as experiências nas bibliotecas escolares moldaram suas escolhas profissionais e proporcionaram ao profissional o Prêmio UFMG de Teses, conferido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Gesner revelou que, durante a graduação, entre os anos de 2009 e 2012, teve a oportunidade de, entre outras coisas, publicar artigos completos em periódicos, escrever um capítulo de livro, apresentar trabalhos em congressos regionais e nacionais. Tendo sido alguns desses trabalhos agraciados com premiações.
Em 2019, 6 anos após estar trabalhando como Bibliotecário-Documentalista na UFMG, na Biblioteca J. Baeta Vianna, no Campus Saúde, foi aprovado para o mestrado em ciência da informação pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFMG, sob a orientação da professora Alcenir Soares dos Reis.
Nomeada “Mediação bibliotecária no contexto universitário para a busca e recuperação de evidências científicas em saúde: desafios e reverberações”, a tese, segundo divulgado pela Universidade, “desde o início, quando ainda era uma proposta de investigação, o estudo já teve destaque: a banca de qualificação recomendou que houvesse mudança de nível de mestrado para o doutorado e a sugestão foi aceita pelo PPGCI e pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFMG”.
A respeito de sua tese, Gesner revelou que a pesquisa buscou problematizar e discutir os desafios da mediação Bibliotecária no processo de busca de estudos em bases de dados na área da saúde, destacando que essa temática, segundo o profissional, teve como elemento motivador as indagações originadas em sua prática profissional na Biblioteca do campus Saúde da UFMG: “comecei a notar que o Bibliotecário possui um papel estratégico no processo de busca de estudos em saúde. Além disso, que as implicações da atuação deste profissional não ficavam circunscritas à quantidade e/ou qualidade dos estudos recuperados a partir da sua mediação. A partir dos dados coletados na pesquisa foi possível apreender a percepção dos Bibliotecários em relação às características, desafios e limitações para o exercício profissional no contexto da saúde notadamente no que diz respeito à mediação para a busca de estudos em bases de dados”.
Gesner destacou, também, a riqueza das discussões sobre competências necessárias para Bibliotecários na área da saúde: “há na literatura nacional e internacional da área de Ciência da Informação profícua discussão acerca do perfil e das competências profissionais desejáveis e/ou requisitadas para a atuação Bibliotecária na área da saúde. A gente sabe que o lugar de atuação deste profissional (instituição de ensino superior, hospital, associação profissional, órgão de classe, operadora de plano de saúde etc) pode demandar habilidades específicas, mas é possível sinalizar um rol de competências técnicas que são transversais, isto é, independem da área específica de atuação no contexto da saúde”.
O Bibliotecário, também, abordou os desafios para desenvolvimento do conhecimento e habilidades do ponto de vista técnico e comportamental. “Apesar de tais competências terem como referência o contexto sociocultural e a formação Bibliotecária nos Estados Unidos, elas são aplicáveis à realidade brasileira, notadamente às bibliotecas universitárias de saúde. Isso se justifica, basicamente, pelo fato de o objetivo e o insumo de trabalho do Bibliotecário de referência nos Estados Unidos e no Brasil serem idênticos: mediar o acesso às melhores evidências disponíveis na literatura para subsidiar e qualificar a tomada de decisão e o desenvolvimento de pesquisas em saúde”.
A respeito dos resultados alcançados, Gesner destacou que “sinalizam que as singularidades do processo de trabalho nas bibliotecas universitárias de saúde são determinadas pelas idiossincrasias¹ de seu público e pelas características do campo prático/teórico/metodológico, assim como pelo fato de a saúde humana (física e mental) ser o objeto de estudo e prática da área. Dada a complexidade do processo de mediação Bibliotecária para a busca de estudos, exige-se deste profissional uma preocupação crítica e reflexiva para além dos aspectos eminentemente técnicos da mediação para a busca de evidências científicas. Afinal, a relação entre Bibliotecário e o pessoal da saúde é, antes de tudo, dialética.”
Ainda segundo o Bibliotecário, “a pesquisa revelou que, além da assertividade dos estudos recuperados em face do problema apresentado, a atuação Bibliotecária possui reverberações na qualidade da produção científica institucional que, por sua vez, vai impactar na conformação do campo científico e, em última análise, nas práticas de cuidado à saúde. Assim, de forma direta ou indireta, o suporte bibliotecário tem o potencial de impactar todo o ecossistema de evidências em saúde”. Gesner completou revelando que “se, por um lado, esses achados reforçam o papel estratégico dos Bibliotecários não apenas no processo de organização da informação, mas também na sua recuperação; por outro, reforça a preocupação ética e as responsabilidades sociais que devem pautar a atuação de tais profissionais”.
Entretanto, o profissional ressalta que, em termos filosóficos, “há por parte de alguns Bibliotecários uma percepção dúbia em relação ao serviço de suporte à busca de estudos em bases de dados: fazer para o usuário e fazer com o usuário. Essa percepção utilitária do serviço – fazer para – contradiz a própria essência do serviço de referência. Além do mais, os dados da pesquisa revelam que os Bibliotecários precisam aprimorar o senso crítico em relação aos desafios e potencialidades de sua atuação profissional. Em resumo, os achados da pesquisa colocam em pauta o desafio de a formação do Bibliotecário brasileiro abarcar ao mesmo tempo, uma formação acadêmica sem perder de vista o desenvolvimento de habilidades fundamentais para a atuação profissional de forma geral, mas, fundamentalmente, em contextos especializados”.
A premiação
A respeito do prêmio, Gesner revelou que, inicialmente, pensou ser um engano, e atribuiu isso à autocrítica e à percepção de que seus resultados ficaram entre o ideal e o possível. Além disso, o profissional enfatizou a natureza simbólica do prêmio, destacando sua identidade como jovem negro de origens populares, servidor público beneficiado por cotas, egresso da UFMG e servidor da instituição. A premiação reforça, também, a importância da educação nas classes populares e reconhece o papel fundamental dos docentes.
Gesner aproveitou para agradecer à professora Alcenir, “que me acolheu ainda na graduação e oportunizou o meu desenvolvimento na carreira, não apenas do ponto de vista técnico, mas, também, sociocultural. Acredito, portanto, que esse reconhecimento é uma marca importante na minha trajetória acadêmico-profissional que teve início em 2009, ainda no curso de graduação. De todo modo, o que mais me impactou ao ser premiado foi ter a clareza de que esse prêmio não é só meu, ele representa a síntese do esforço intelectual daqueles que me antecederam, dos pares, colegas de trabalho, amigos e familiares”.
O futuro
Abordando a incerteza do futuro de forma filosófica, como um “amanhã que nunca chega”, Gesner revelou estar construindo seu futuro no presente, concentrando-se em três frentes.
A primeira é concluir o pós-doutorado até abril de 2024, focado em desenvolver ferramentas para qualificar serviços bibliotecários na saúde. A segunda frente envolve buscar alternativas com outros Bibliotecários para fortalecer a especialidade. A terceira, através do empreendedorismo como consultor de informação, e a criação da Scoping – Consultoria Bibliotecária em Saúde, que oferece serviços, cursos e treinamentos na área.
Por fim, o profissional destacou, também, que “na minha percepção, o mais importante de tudo, parafraseando aquele samba antigo, é reconhecer a queda, não desanimar, levantar a cabeça, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Enfim, acreditar que é possível.”
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¹ nome feminino – [Medicina] Predisposição particular de um organismo para reagir de maneira individual a um estímulo ou agente externo.