Direção do colégio disse que eram exemplares antigos e defasados
Ana Cláudia da Costa Leite estava na hora certa, no local certo e viu a cena errada: centenas de livros jogados na calçada. A estudante de biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) seguia para casa na tarde de ontem, quando se deparou com o material jogado em uma rua do bairro Azenha, em Porto Alegre.
O pior: os exemplares estavam na Rua General Caldwell e vinham da biblioteca da escola Escola Estadual de Ensino Fundamental Duque de Caxias.
– Nem preciso dizer que aquilo me deixou chocada, é completamente inverso a todos os valores que estudo – disse a jovem de 20 anos. – O que eu aprendi é que, no mínimo, se deve procurar instituições responsáveis e realocar os livros para quem necessite.
Ela fotografou a cena e postou a revolta na linha do tempo do Facebook.
Vice-diretora da escola Marys Saldanha não soube informar para quem os livros foram entregues. Ela disse que não estava no local na hora do descarte, mas sabe do que se tratava:
– A direção da escola doou os livros e vieram pegar os livros de carroça. Eram livros anteriores a 2000.
Segundo Marys, os livros eram “defasados e antigos”.
A estudante Ana Cláudia, contudo, disse a ZH que muitos dos livros eram novos, alguns “sequer abertos”.
A professora do curso de Biblioteconomia da UFRGS Eliane Moro conta que a situação das bibliotecas públicas é de grande quantidade em detrimento da qualidade. Ela explica que, em muitos casos, os livros são doados e não registrados e, por isso, não são considerados patrimônio público. Caso sejam registrados, a forma como foram descartados é um descaso com o patrimônio público:
– Por qualquer das situações, essa imagem é uma afronta. Qual a finalidade que vai ser dados a esses livros?
Maria do Carmo Mizetti, a coordenadora do sistema de bibliotecas da secretária Estadual da Educação, diz que a orientação do governo é que os livros, mesmo os didáticos já defasados, sejam doados para instituições como bibliotecas comunitárias e presídios e que não devem ser “colocados na calçada”.
– É uma irregularidade. Os livros não poderiam ser descartados assim — afirma.
Fonte: Zero Hora | Cláudio Goldberg Rabin