Por Evaldo Ferreira Vilela – O Estado de S.Paulo
Gerar riquezas e criar empregos vem se tornando um desafio cada vez mais angustiante para as nações, particularmente as que ainda não conseguiram incorporar a inovação tecnológica como prática de desenvolvimento. Mais e mais se intensifica a economia baseada no conhecimento, com as novas mídias, e novos e novíssimos produtos digitais incorporados ao dia a dia das pessoas, preenchendo esperanças. Tudo muito mais rápido e em quantidades nunca vistas antes. Conseguirá o Brasil incluir-se como protagonista nesta nova economia? Ou se contentará com o pipocar de uma ou outra importante inovação, como na Embraer, na Embrapa, na Petrobrás e em algumas outras, sem, contudo, criar uma mania nacional pela inovação, capaz de impulsionar a competitividade de seus produtos e serviços frente aos competidores mundiais?
Temos boas universidades e instituições de pesquisa e uma pós-graduação reconhecida pela qualidade. Com isso, somos o 12.º país produtor de conhecimento. Mas falta-nos organizar o ambiente de inovação, articular nossas fortalezas e conectá-las às ações dos governos e da sociedade, num grande plano nacional de geração de negócios competitivos, envolvendo massivamente jovens talentos capacitados em empreendedorismo. Iniciativas como o Ciência sem Fronteiras, infelizmente, não guardam conexão com movimentos de inovação e de competitividade; devem render alguns bons resultados, mas não se conectam diretamente com uma estratégia de renovação da indústria, na velocidade requerida pelos dias atuais.
Novos conhecimentos e tecnologias são igualmente gerados nos laboratórios de nossas universidades e centros de pesquisa, mas, por falta absoluta de uma política corajosa de tratar o risco dos novos negócios, não viram startups e perdemos com isso um poderoso instrumento para inovar a indústria e os serviços. No caso da agricultura, é enorme o potencial de novas empresas de base tecnológica que, se viabilizado um programa nacional dessa natureza, pode contribuir em muito para a nova agricultura tropical, mais sustentável, com novas tecnologias, sistemas de produção e modelos de negócio, livrando-nos da enorme dependência de insumos importados.
Mas como sair do discurso e fortalecer a economia com base no conhecimento? Como criar novos negócios tecnológicos em quantidade e velocidade, e conectados às demais ações? Como tratar o risco de lidar com o novo e escolher prioridades?
Uma nova ferramenta desenvolvida pelo Media Lab MIT, o Product Space, analisa a complexidade e diversidade de uma região, ou país, e fornece orientações para o desenvolvimento com base nas capacidades e potencialidades, criando condições objetivas para a previsão do desenvolvimento e a consequente definição de políticas públicas visando a fomentar a inovação. O governo de Minas tornou-se parceiro desse esforço e, com sua fundação de amparo à pesquisa, vem criando uma nova representação da economia do Estado, que permite a identificação de caminhos menos custosos e com maiores potencialidades estratégicas para o desenvolvimento, seja movendo-se para produtos próximos aos já produzidos no Estado, por meio de novas combinações de suas capacidades, ou buscando novas capacidades que permitam a criação de negócios completamente novos. É a primeira vez que se analisa um Estado subnacional à luz do Product Space, valendo-se dos big data da indústria, do comércio exterior, do emprego, da fazenda, de transporte e obras públicas e do IBGE, numa abordagem científica, sem achismos.
As informações provenientes do Product Space revelam as capacidades produtivas do Estado e indicam caminhos para aumentar a diversidade e complexidade da economia, revelando produtos de maior valor agregado e densidade tecnológica a serem adicionados. Somam-se ainda a outros estudos, conhecimentos e experiências dos gestores, para que, em conjunto e de forma transversal, sejam definidas prioridades e políticas públicas adequadas para o incentivo da inovação e a aceleração do desenvolvimento. Tudo isso só é possível a partir de um processo criterioso de capacitação técnica e de estímulo ao trabalho em equipe e colaborativo, visando à compreensão da ferramenta, suas potencialidades e, principalmente, à formação de uma rede coesa de agentes, fundamental para enfrentar a transversalidade do desafio colocado. Com isso os programas são articulados, organizados e conectados às demais iniciativas e aos planos do governo, potencializados com a coordenação das capacidades que faltam com as demandas por essas capacidades. É um passo decisivo para abandonar o antigo modelo de administração verticalizada, que preserva as “igrejinhas”, com cada um procurando ser melhor, sem se preocupar com o resultado do todo, apesar do discurso muitas vezes contrário.
Surgem, assim, as redes cooperativas, alicerçadas não só na vontade, mas numa base estruturada de conhecimento sobre o território. Certamente ficarão mais evidentes os gargalos que impedem o País de avançar no processo de inovação, como os relativos aos marcos legais, que se não tratados com a devida urgência seguirão emperrando novos negócios inovadores, novas empresas de base tecnológica, assim como a mudança de patamar do desenvolvimento científico e tecnológico nacional, incluindo a transferência de tecnologia e know-how no contexto da relação público-privada.
O mundo que hoje gera riquezas e empregos em robustos ambientes de inovação prima pela ausência de preconceitos contra o novo e lida com bases científicas para a tomada de decisão. Assim, temos chances de ter fábricas, e não apenas montadoras, ter indústrias densas em conhecimento, como a farmacêutica, em vez de gastar o que não se tem com a importação de produtos e serviços de países asiáticos.
PH.D. pela University of Southampton (UK), Membro da Academia Brasileira de Ciências, Professor da Universidade Federal de Viçosa, é Secretário Adjunto de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais. E-mail: evilela@ufv.br.
Fonte: Estadão