A Prefeitura de Sabará foi autuada, em 2018, pelo Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região (CRB-6) devido a Biblioteca Pública da cidade estar funcionando sem a presença de um Bibliotecário, mesmo após a realização de concurso. No ato, o Conselho solicitou que o Bibliotecário Morhamed Carolino Dias (CRB-6/3415) fosse efetivado no cargo de direito. A regularização se deu em 2020.
Biblioteca Pública de Sabará
O Príncipe Jean, grão-duque Hereditário de Luxemburgo e sua comitiva, abriram o Livro de Registro de visitantes da Biblioteca Pública Professor Joaquim Sepúlveda, em 2 de julho de 1942. Em seus 80 anos, a biblioteca de Sabará acumula diversas histórias próprias em seu acervo.
A abertura da biblioteca ocorreu, apenas cinco meses após a inauguração, no Decreto-Lei nº 32, de 21 de dezembro de 1942, conforme o Livro de Registros nº 3 de “Leis, Decretos e Resoluções da Câmara Municipal de Sabará”.
Inicialmente, a unidade foi instalada no Solar do Padre Correia, sob o nome “Biblioteca Pública de Sabará” e, somente em fevereiro de 1977, recebeu o atual nome, uma homenagem ao professor, carinhosamente apelidado de “Tim” (1897-1987), por sua contribuição com o desenvolvimento intelectual dos jovens de Sabará. No mesmo ano, a biblioteca foi transferida para o Solar de Dona Sofia, onde ficou por 27 anos.
O prédio, que ocupava a “Antiga Câmara e Cadeia”, foi reformado e entregue à comunidade para se tornar sede da biblioteca, porém, apenas em 2009, o espaço foi reinaugurado e funciona até hoje.
A biblioteca conta com um acervo de aproximadamente 50 mil livros, dentre eles, uma coleção original doada pelo antigo duque de Luxemburgo. Além disso, conta com variados títulos para pesquisa, um enorme acervo literário, área para estudo e jogos, espaço infantil e computador para consulta. Seguindo os avanços tecnológicos, o serviço de consulta o acervo da biblioteca pode ser encontrado no sistema Biblivre, como catálogo para pesquisa, reserva e renovação de obras. Morhamed explica que a inovação ainda pode ir além com a criação de canais de comunicação, um dos desejos do Bibliotecário que estuda, junto à Secretaria de Educação, uma melhor forma para propor melhorias e, assim, auxiliar os usuários.
Projetos e ações
Morhamed foi efetivado durante a pandemia do Covid-19 e atua como supervisor técnico da biblioteca em parceria com os demais profissionais da instituição. Para o Bibliotecário o trabalho hierarquizado não é uma opção, já que prefere trabalhar em conjunto com os profissionais que estão há mais tempo na Biblioteca possibilitando uma maior troca de conhecimento “é importante ouvir e aprender sempre com as pessoas e a comunidade, pois a Biblioteca Pública é uma instituição que possui valores imateriais para o público”, revela.
Durante o, ainda, curto período de atuação, Morhamed, juntamente com os outros profissionais, procurou implementar serviços de referência virtual, além de estar trabalhando, junto à Secretaria de Cultura de Sabará, para a realização de eventos. Entre os objetivos da equipe estão: hora do conto, mediação de leitura, clubes de leitura, oficina de criação literária e estabelecer parceria com a Borrachalioteca para promover eventos da Feira Literária de Sabará (FLIS) em conjunto com a organização, para o Bibliotecário “esses eventos são importantes para fazer da biblioteca um organismo vivo e presente na vida da comunidade”.
Com os avanços tecnológicos e a crescente adequação da vida ao mundo digital, Morhamed deixa um alerta para as pessoas: “a internet facilita o acesso à informação, mas, muitas vezes, o indivíduo tem uma certa ilusão sobre aquilo, porque os mecanismos de busca não são precisos, inclusive, acessando sites com informações inverídicas. Com isso, as pessoas acreditam que o papel do Bibliotecário não é importante, já que elas são autônomas. As pessoas estão iludidas com a internet, acreditando que apenas um toque no Google já é suficiente para produzir conhecimento. Na verdade, informação por si só, não é um conhecimento. Neste sentido, o Bibliotecário precisa atuar auxiliando as pessoas a serem melhores em competência informacional”. Desta forma, Morhamed acredita que os Bibliotecários precisam aparecer mais em plataformas como YouTube, já que, atualmente, é o local em que as pessoas estão buscando muitos conteúdos. No entanto, o Bibliotecário acredita que as pessoas precisam se familiarizar com o suporte primeiro e que existe um complemento entre suporte e mundo digital e que “o Bibliotecário precisa ser educador das pessoas no sentido do aprimoramento do uso das informações e, para isso, é preciso aparecer mais, dar a ‘cara a tapa’ e ajudar o mundo contemporâneo a fugir das más informações, dos maus dados e consequentemente, da ilusão de conhecimento”.
Morhamed Carolino Dias
O profissional passou por um momento difícil, após sua formação: “houve enorme dificuldade para se colocar no mercado de trabalho devido à falta de oportunidades durante a crise originada em 2016, com o Impeachment em Dilma Rousseff. A situação se complicou devido à falta de oportunidade na área, visto que houve diversos cortes na área da Biblioteconomia. Nessa época, eu corri atrás de tudo. Eu só consegui emprego porque havia trabalhado em uma editora, podendo atuar como designer gráfico e Bibliotecário”, revela.
“Graças à uma série de fiscalizações do CRB-6, veio a oportunidade de ser responsável pela Biblioteca Pública de Sabará”, revela o Bibliotecário que é grato ao Conselho pela “atuação exemplar no sentido de realizar ações fiscalizatórias” que resultou em sua efetivação e, consequentemente, o retorno do ânimo em relação à carreira. Segundo Morhamed, “o Conselho Regional de Biblioteconomia é muito importante para a classe, uma vez que é a instituição responsável por averiguar e inspecionar a atuação do poder público no que se refere ao respeito às unidades de informação Bibliotecárias”.
Para o futuro, Morhamed diz que seu maior sonho seria trabalhar na Biblioteca Nacional e promover maior acessibilidade do público ao site da Biblioteca e aos acervos ali encontrados digitalmente, para ele “a Biblioteca Digital poderia ter uma interface mais fácil de ser utilizada”. Ainda no campo do sonho, ele acredita que a Biblioteconomia precisa ter mais profissionais trabalhando no campo político, implementando soluções em governos municipais, estaduais e federais, “seria muito interessante se fosse político e pudesse apoiar todas as unidades de informação que existem no Brasil, tornando esses locais mais acessíveis digitalmente e presencialmente. Instituições culturais devem ser apoiadas em todos os lugares do país. Bibliotecas comunitárias principalmente”, revela.
Morhamed, por fim, deixa um abraço para todos os Bibliotecários de Minas Gerais e Espírito Santo, em especial à gestão da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa e “a todos os lutadores da categoria que vem travando grande batalha pela criação do Sindicato em Minas Gerais”.