“Um brinquedo feito com letras”. Foi assim que, certa vez, Rubem Alves descreveu o que seria um livro. Essa ferramenta, fundamental para a construção de uma sociedade melhor, foi tema de recente artigo do presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-6), Álamo Chaves (CRB-6/2790), publicado no portal e na edição impressa do jornal O Tempo, em 1º de novembro.
Leia o texto na íntegra:
A fonte inesgotável de prazer
***Álamo Chaves, presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região de Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-6)
Os livros são ferramentas essenciais para a leitura e, conforme afirmou Rubem Alves certa vez, “um brinquedo feito com letras”. Brincadeira que abre um mundo de possibilidades ao leitor, permitindo-lhe viajar pelos mais diferentes universos. O Dia Nacional do Livro, portanto, é uma data crucial para discutir a relevância da leitura, da literatura e das bibliotecas. Afinal, a data surgiu quando, além de trazer sua família para o Brasil, em 1808, D. João resolveu transferir a Biblioteca Real para o Rio de Janeiro. A inauguração do espaço ocorreu em 29 de outubro do mesmo ano, apresentando livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas.
Não existem mais dúvidas que a leitura estimula várias habilidades cognitivas, como o desenvolvimento da criatividade, funções neurológicas da aprendizagem e ampliação de vocabulário, entre outras. Ao ler, diversas áreas do cérebro são estimuladas, criando, assim, imagens e sons na mente do leitor.
Portanto, essa atividade é, talvez, a mais completa de todos os exercícios intelectuais, materializando-se em um caleidoscópio de potenciais papéis sociais, conforme indicaram fundamentais personalidades históricas.
Se para Kafka, “um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós”, para René Descartes, é um instrumento que possibilita “uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados”. Para Saramago, a leitura por meio dos livros “é, provavelmente, uma outra maneira de estar em um lugar” e, na síntese de Voltaire, “engrandece a alma”.
Contudo, uma das melhores definições veio, talvez, de Paulo Freire, quando afirmou que o ato de ler “não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas antecipa e alonga na inteligência do mundo”.
Por meio de uma leitura do próprio mundo – proposta do próprio Freire, diga-se -, Drummond destacou que a “leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”; e Thoreau percebeu que “muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro”.
Ruth Rocha, por sua vez, afirmou que o “processo de leitura possibilita essa operação maravilhosa que é o encontro do que está dentro do livro com o que está guardado na nossa cabeça”, mas salientou que “a leitura, antes de mais nada, é estímulo, é exemplo”. E Mário Quintana nos brindou com a frase: “O verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê”.
Entretanto, valendo-se do conselho da autora infantil, é imperioso lembrar que cabe aos pais estimularem o interesse dos filhos pela leitura. E, quando essa tarefa é falha dentro de casa, compete ao Estado assumir essa responsabilidade, afinal, se a escola não der esse suporte, a criança estará fadada a um destino lamentável.
Somente depois que o apreço pela leitura for desenvolvido em cada um dos brasileiros, a frase “Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca”, de Jorge Luis Borges, fará sentido completo para todos.